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Antologia // Portugal

A cadência rítmica
do português arcaico

O exemplo de balada de Sancho I

« (...) Fenómeno notabilíssimo, talvez único, não só quanto ao português, mas também em todos os idiomas neo-latinos. (...)»

 

Quanto ao Português, chamo desde já a sua atenção para isto: – que os legítimos textos arcaicos não são uma floresta oscura, selvaggia ed aspra e forte, uma série de vocábulos raros e complicados, entrelaçados em construções bárbaras, como aquelas Relíquias apócrifas e artificiosíssimas que durante séculos passaram por obras dignas de fé, de um Egas Moniz Coelho e Gonçalo Hermiguez.

Numa balada de Sancho I, composta antes de 1200, uma das mais antigas poesias trovadorescas de Portugal, de deliciosa cadência rítmica, há apenas umas vinte e tantas palavras diversas, todas elas singelas quanto à forma e quanto à essência e – todas – já eram então o que são hoje. É um fenómeno notabilíssimo, talvez único, não só quanto ao português, mas também em todos os idiomas neo-latinos.

Reparem bem! – Ela diz:

Ay eu coitada! – Como vivo,
en gran cuidado por meu amigo
que ei alongado. Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!

Ay eu coitada! Como vivo
En gran desejo por meu amigo
que tarda, e non vejo! – Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
 
Fonte

Apontamento a filóloga Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851 — 1925), transcrito da Introdução do livro Lições de Filologia Portuguesa.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa