«[Reúnem-se] em "acampamentos", para defender a "desconstrução da masculinidade tóxica" [...].»
Outrora revolucionário, Francisco Louçã aburguesou-se. Provou as migalhas de poder e gostou muito. Meteu o trotskismo na gaveta, ganhou aversão ao proletariado e deu a mão ao capital, que representa feito conselheiro no Banco de Portugal.
Esqueceu os desmandos igualitários da puberdade e adora ser tratado por "Professor". Comenta as crises do BE desde a sofisticada Sardenha e nas convenções do partido insulta os adversários, enquanto branqueia o pior da política nos próximos, esperançado de que ninguém note. Engana-se.
O sectário líder emérito da extremíssima-esquerda, apregoa que «o BE é a segurança contra o imenso e insidioso partido da corrupção, que vai dos submarinos aos vistos gold e às parcerias público-privadas». Deveria olhar para si e para os que sustenta por interesse no Governo. Cuspindo generalizações, tratando por igual pessoas sérias – a maioria – e quem eventualmente não seja, omitindo os pecados próprios e os de quem suporta apesar da derrota eleitoral, define-se.
Trata-se da mesmíssima pessoa que apoiou autarcas do BE, sem um reparo, quando envolvidos em investigações judiciais. Quem confrontado com a secreta propensão imobiliária e especulativa do Ricardo Robles, ungido combatente bloquista contra a "gentrificação", que afinal encarnava como ninguém, justificou os atos do vereador com a bondosa «solidariedade familiar» a que «tirava o chapéu», o valor milionário na venda do prédio reconvertido ao alojamento local que o partido supostamente combate, com a «pressão dos preços que todos conhecemos» e que se riu dos pedidos de demissão. O político que agora não nomeia os casos Freeport, Operação Marquês, Face Oculta, Parque Escolar, tanto mais, com a mesma ligeireza com que Ferro Rodrigues e António Costa diziam há meses que o combate à corrupção «está no ADN do PS». Beliscar os compagnons de route não pode ser.
Compreende-se. A convenção caviar também serviu para a confissão de que o BE quer ser Governo. Francisco Louçã inspirou-se na profundidade do boneco animado Buzz Lightyear, para ver o BE ir «ao infinito e mais além». Em conjunto, imaginam Mariana Mortágua ministra das Finanças e Catarina Martins de outra coisa qualquer.
Os bloquistas podem saudar-se como "camarados", dispostos a assassinar a língua portuguesa, para sublinhar proclamações de género ridículas. Reunir-se em "acampamentos", para defender a «desconstrução da masculinidade tóxica», que «a propriedade é o roubo», «o direito à boémia» e a «legalização de todas as drogas». Portugal, que não fez mal nenhum, é que não merece sacrificar-se em nome de um Governo de gente assim.
Artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias em 15 de novembro de 2018.