Acabo de dar uma rápida vista de olhos no Ciberdúvidas, o que já não fazia há algum tempo. E o que leio no Pelourinho de Outubro de 98, num artigo assinado por J.M.C. intitulado «Portugueses que preferem o inglês»? Leio «Uma nova revista, destinada aos tempos livres, apareceu nas bancas portuguesas, com rubricas como cinema, teatro, artes, livros, música, o habitual.» e «Um novo programa foi para o ar no canal televisivo português SIC, no passado dia 30 de Setembro.».
Não acha J.M.C. que tão criticável (pelo menos) como utilizar termos ingleses é utilizar uma estrutura de frase que nada tem a ver com o português, mas sim... com o inglês? Aliás, esta é mais uma das grandes inovações das nossas televisões - começar todas as frases pelo sujeito.
No caso presente, a construção portuguesa é «Destinada aos tempos livres, apareceu nas bancas portuguesas uma nova revista, com rubricas como cinema, teatro, artes, livros, música, o habitual.» ou ainda «Apareceu nas bancas portuguesas uma nova revista, destinada aos tempos livres, com rubricas como cinema, teatro, artes, livros, música, o habitual.». E outras construções são possíveis: o que não é possível em português escorreito é dizer «uma nova revista apareceu» (embora se deva dizer «a nova revista apareceu nas bancas a 20 de Janeiro»).
Quanto à segunda frase, idem e pelas mesmas razões: o artigo indefinido não permite esta construção. Não me perguntem porquê, que não sou especialista: é apenas uma questão de ouvido. Assim, o «foi para o ar» tem de vir antes de «um novo programa».
Ainda há dias, ligo o televisor a meio do Telejornal, e ouço esta coisa linda a propósito do novo ano chinês: «Figuras são colocadas nas janelas». Touching!