«Ter dois pesos e duas medidas»: a expressão perde-se no tempo e e evoca os espaços das pequenas mercearias tradicionais. Aí as pesagens eram feitas numa balança na qual se colocava num prato um peso (com um determinado peso) e no outro o produto a ser pesado. Neste contexto, havia sempre histórias de merceeiros menos honestos que tinham dois pesos (um com o peso real e outro com um peso falsificado), o que lhes permitia enganar o cliente no peso do produto e, portanto, conseguir mais lucro com as vendas. O mesmo acontecia com as medidas, que eram recipientes usados para medir porções certas. Ora, estas caixas podiam também adulterar a quantidade de produto a vender. Para tal, bastava que as paredes do recipiente fossem ligeiramente mais volumosas para que o produto dispensado não correspondesse à quantidade devida, assegurando assim mais rendimento a quem vendia.
A expressão «ter dois pesos e duas medidas» rapidamente evoluiu dos casos de medição e pesagem reais para um uso metafórico que permite avaliar atitudes ou decisões.
Assim, quem decide com «dois pesos e duas medidas» trata situações semelhantes e equivalentes de forma manifestamente distinta. Parece ter sido esta a atitude do Governo português face aos adeptos ingleses que invadiram a cidade do Porto por ocasião da final da Liga dos Campeões. Os dois pesos e duas medidas ficaram à vista na forma como estes puderam conviver em grandes ajuntamentos, não usar máscara, consumir bebidas alcoólicas nos espaços públicos, para só referir o mais evidente.
O grande problema de «ter dois pesos e duas medidas» é que esta opção torna muito difícil o regresso ao peso e medida únicos.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Ter dois pesos e duas medidas]
Apontamento da autora no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 6 de junho de 2021.