O tema do “cyberbullying” foi reaberto recentemente com a publicação do livro Pra cima de Puta, da apresentadora televisiva portuguesa Cristina Ferreira. A autora anunciou que na base desta sua publicação se encontrava a intenção de denunciar a situação de “cyberbullying” de que tem sido vítima. Na sequência desta tomada de posição, Cristina Ferreira lançou ainda uma petição pública intitulada “Contra o ódio e a agressão gratuita na internet”, que tem como fim levar o debate deste tema à Assembleia da República.
No plano linguístico, toda esta situação levanta o problema de não existir em português uma tradução para o anglicismo “cyberbullying”. A palavra formou-se a partir de “bullying”, termo também sem tradução estável, que refere todo o tipo de ação física, verbal ou outra, promovida para intimidar, dominar ou abusar de outra pessoa. O “bullying” caracteriza-se também por ser uma atitude prolongada no tempo. Várias propostas de tradução têm sido apontadas: ameaça, assédio, intimidação.
Já o “cyberbullying” mantém estes mesmos traços, mas o meio em que tem lugar é o espaço virtual. Redes sociais, blogues, email são vias de comunicação usadas para exercer este tipo de violência sobre a pessoa visada. Encontrar, em português, uma palavra que contemple toda esta realidade não tem sido tarefa fácil. Há quem proponha a expressão «assédio virtual», que só será ajustada se tomarmos a palavra assédio em toda a sua capacidade significativa, porque, de facto, o “cyberbullying” assume uma amplitude de manifestações que chega a ser assustadora.
Mais preocupante ainda é o facto de termos necessidade de discutir este tema porque, na verdade, a língua está ao serviço dos falantes e termos como “bullying” ou “cyberbullying” só foram criados porque a realidade existente precisou de ser dita.
O que não deixa de ser verdade é que deveria bastar a existência de palavras desta natureza para que quem faz a realidade que elas dizem se sentisse envergonhado. Mas, o que é verdade também é que a sem-vergonhice grassa por aí.