Em 1873, o grande Augusto Epifânio da Silva Dias, na 2.ª ed. da sua Gramática Portuguesa, nota que não abriram o o da sílaba tónica no plural as palavras adorno, bolso, estojo, folho, globo e molho (ô). Mas em 1883, dez anos depois, A. R. Gonçalves Viana, no Essai de Phonétique et de Phonologie de la Langue Portugaise, diz que já se pronunciava geralmente adornos (ó) e até gostos (ó), mas este termo só os algarvios o pronunciam assim.
Nas 45 palavras da lista que Viana apresenta, suprimiu avô, por fazer avós no plural dos dois géneros, e observa que se cometem erros como “avôs”. Fora da lista, constam os particípios, geralmente empregues como adjectivos ou substantivos, torto(s), torta(s), ambos com o aberto, posto com o fechado e postos com o aberto, postas (com o aberto), que seguem a regra dos adjectivos em -oso, como formoso, formosa, formosos, formosas, estes três com o aberto. Ei-las então: abrolho, almoço, cachopo, caroço, choco, choro, composto, corcovo, corno, corpo, corvo, despojo, destroço, escolho, esforço, esposo, estorvo, fogo, forno, foro, imposto, jogo, olho, osso, ovo, pescoço, poço, porco, posto, preposto, reforço, renovo, rogo, soro, socorro, suposto, tijolo, tojo, tordo, torno, tremoço, troco, troço.
Segundo Gonçalves Viana, a origem da mudança acha-se nos nomes latinos neutros, que tinham a terminação -um no singular e -a no plural. Trata-se, diz, dum caso de refracção (ou metafonia) que se estendeu a outras palavras por falsa analogia. Nos adjectivos é excepcional o caso de tôdo, tôda, tôdos, tôdas, sempre com o fechado. Os nomes graves de vogal tónica e mantêm geralmente o som etimológico do e (ê < é, i latinos; é < e), como em grego, seco, belo, certo, dedo, com femininos e plurais com iguais ee (és): cégo, etc.; sêco, etc.; vélho, etc. A refracção ou metafonia, escreve, é a influência das vogais átonas finais nas tónicas da sílaba precedente (Umlaut, em alemão): formôso, f. -ósa; pl. -ósos, -ósas (por causa do -u final) (< lat. -um), escrito com o em português.
Estudou magistralmente o assunto Augusto d’Almeida Cavacas, em A Língua Portuguesa e sua Metafonia, publicada em 1920. Este acrescenta à lista dos plurais que abrem o ô do singular as seguintes palavras: estojo, corvo, horto, novo, sogro, bolso, forro; por outro lado, não abre no plural o ô do singular de esboço e de polvo, o que hoje muitos já fazem.
Apresenta, nos casos com hesitações: estolho, escolho, esposo, poço, logro, tijolo, tremoço, conforto, acordo, contorno, socorro, folho, troco, adorno, despojo e torno. Algures já Viana abria, e outros também já se abriram entretanto, isto é, de 1920 para cá.
Para Cavacas também há o plural pescôços, e acrescenta o adjectivo môrno (mórnos). Os adjectivos em -oso, tais como formoso, ansioso, animoso, famoso, honroso, etc., também abrem o o tónico no plural. Posteriormente, os não registados, bisavô, trisavô, estofo, desporto, arroto, colono, cachopo, rosto, torto, etc., abrem o o tónico no plural, bem como, frequentemente, visigodos e ostrogodos.
O muito útil Dicionário de Rimas de Costa Lima é também de grande ajuda nisto de saber se os singulares são com o tónico fechado ou já aberto. Diga-se ainda, quanto à pronúncia do o tónico, que a de como como cumo é típica, como é sabido, dos nortenhos, p. ex. do Porto e de Braga, e trata-se de caso raro na língua portuguesa, de um o tónico passar a u, como também sucedeu com totum, que deu tudo.