Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.
<i>De encontro a</i> ≠ <i>ao encontro de</i>

Mais uma confusão no emprego do «ir de encontro a» e do «ir ao encontro de»:

«O que não vem entre aspas faz parte do texto do jornalista. E este tem liberdade de escrever como bem entender, desde que respeite as normas jornalísticas e vá de encontro ao sentido do texto que está a escrever. O que aconteceu neste caso.»

(...)

«É um assunto para depois do intervalo — anunciou o apresentador do "Jornal da Tarde" * —, onde vamos conhecer também o último trabalho de Paulo Gonzo. Até já.»

Onde emprega-se a respeito de espaço, lugar, sítio, terra: «A terra onde ele viveu»; «a cidade onde casou»; «a casa onde mora».

Notícia do "Telejornal", na RTP 1, 8 de Abril p.p., sobre um assalto à mão armada, numa gasolineira, em Benavente: «O crime verificou-se pelas 9 horas da noite, quando a única funcionária da bomba, acompanhada pela filha, fechava a estação de serviço. Nessa altura é abordada por homens encapuçados e armados com caçadeiras.»

As siglas têm a grande vantagem de poupar espaço (na folha de papel ou no tempo da elocução). A junção das iniciais de cada palavra de uma expressão abrevia e compacta formulações mais ou menos extensas.

Parece, pois, ser um processo de formação simples e cómodo, mas não é.

«Foram apreendidas cerca de uma tonelada de matérias perigosas.»*

«Foi apreendida cerca de uma tonelada de matérias perigosas»: assim deveria ter sido escrito.

Com efeito, o sujeito da forma verbal «foi apreendida» é «uma tonelada», um termo que está no feminino e no singular. Não importa se a tonelada é «de matérias perigosas» (plural) ou «de peixe» (singular).

Outros exemplos: «Foi apreendida uma tonelada de carapau»; «foram apreendidos quatrocentos quilos de carapau».

«Estão todos convidados – aqueles que estão aí em casa – a virem  até à Praça da Devesa.»*

Foi aqui utilizado o infinitivo flexionado («virem»), mas nesta frase não era necessário flexionar o infinitivo («Estão todos convidados a vir até à Praça da Devesa»), pois esse infinitivo é um complemento do adjectivo verbal «convidados», não havendo alteração de sujeito.
Outros exemplos: «Eles foram convidados a participar»; «eles estão cansados de esperar».

O uso do conjuntivo anda cada vez mais arredado na escrita jornalística. É este o caso:
«A Comissão Técnica das Urgências prometeu estar atenta, mas disse temer que as reformas para evitar mais ocorrências do género podem falhar por falta de meios técnicos e humanos.»1

O verbo temer exige um conjuntivo na oração integrante que se lhe segue, pois trata-se de um verbo que exprime um sentimento.

«Como se tratavam de valores baixos, o suspeito agora detido foi diversificando as agências onde fazia os depósitos, para iludir as autoridades (…)». 1

A construção "tratar-se de" significa «ser o caso de», «estar em causa», e é uma construção impessoal, o que faz com que só se conjugue na terceira pessoa do singular. Exemplos: «Trata-se de muitas pessoas», «tratava-se de várias burlas».
Portanto: «<span style="font-weight...

Primeiro, foi subcomissária da PSP, comentando os incidentes no Estádio da Luz, referindo-se ao local que fora destinado aos adeptos do Futebol Clube do Porto: «Efectivamente aquela posição não é uma posição para voltar a repetir.».

Depois, foi o próprio jornalista, autor da peça: «A PSP não quer que se voltem a repetir situações de violência».1

«As escaramuças verificaram-se quando as claques do Porto (…) chegaram, à zona do Estádio da Luz, pouco passavam das seis e meia da tarde.»1

O verbo passar tem de ficar no singular, pois o termo «das seis e meia da tarde» é apenas um seu complemento, um complemento preposicional. Logo: «As escaramuças verificaram-se quando as claques do Porto aqui chegaram, à zona do Estádio da Luz, pouco passava das seis e meia da tarde.»