Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Português na 1.ª pessoa Pelourinho
Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

     Ainda no jornal “24 Horas” »1:

• «Surpresa das surpresas quando chegam ao Campo Pequeno juntos, agarradinhos, a erradiarem felicidade e amor.
     Primeiro erro: é irradiar (do latim tardio ‘irradiare’, «emanar». «difundir», «emitir»), com i. Segundo erro: não é necessário esse plural “irradiarem”. Como o sujeito de irradiar é o mesmo de «chegar», este infinitivo deveria ter ficado invariáv...

     «O meu sonho é seguir o trajecto de grandes jogadores (…) e vencer o maior número de títulos», escrevia-se no “24 Horas”, sobre um qualquer desses futebolistas à procura de estrelato do pontapé na bola.
     Não se vencem títulos, pois os títulos não são adversários. Vencem-se campeonatos, adversários, batalhas, mas conquistam-se ou ganham-se títulos.

     «Centro de acolhimento temporário para crianças de risco da capital», escrevia-se há dias num rodapé do “Telejornal” da RTP-1.
     Não são «crianças “de risco”», mas «crianças em risco». Não são as crianças que provocam o mal; elas estão é numa situação em que se arriscam a que algo lhes aconteça, as magoe, as maltrate, as prejudique. As crianças estão em risco; as situações são de risco.

     «Um buraco na calçada pode ser reparado por uma equipa de intervenção da Câmara de Lisboa, com uma chamada para o número verde Lx Alerta. António Prôa exulta os munícipes a denunciarem irregularidades nos pavimentos para esta linha telefónica.» 3
     Confundir o verbo exultar («sentir e manifestar enorme contentamento, satisfação, prazer ou felicidade», «rejubilar») com o verbo exortar («incitar», «pers...

«Milhares [de pessoas] saudaram a selecção entre Évora e Lisboa», «centenas de pessoas estiveram nas muitas pontes e viadutos (…) e a isto se juntou ainda os carros particulares que acompanharam o autocarro.»2
     Como o autocarro da selecção portuguesa de futebo...

A propósito da operação mediática A Mais Bela Bandeira Nacional Humana, formada por milhares de mulheres portuguesas, ouviu-se1 o Hino Nacional de Portugal, cantado por Dulce Pontes – com duas alterações e uma incorrecção. Assim: «Entre as brumas da memória,/ Ó Pátria, ergue-se a voz/ Dos teus egrégios avós,/ Que hão-de levar-te à vitória!»

«Há, naturalmente, ofertas para todos os bolsos (ô) e para todos os gostos»1.
     Em primeiro lugar, a pronúncia: a sílaba tónica do plural de bolso é aberta (bolsosó). Depois, a palavra bolso neste contexto não é sinónima de bolsa. No caso, a expressão adequada seria «há ofertas para todas as bolsas». As bolsas é que contêm o dinheiro; o...

«M.C. não quis esclarecer ao 24 Horas o motivo da demissão».
     A frase, do jornal citado, traz este erro: o verbo esclarecer não se utiliza com a preposição a. O verbo esclarecer pede um complemento directo sem preposição (esclarecer alguém): «Esclarecer o público», «esclarecer os participantes», «esclarecer as pessoas», etc. Pode também pedir um complemento regido da preposição sobre ou da locução acerca de: «Esclar...

«Eu queria-lhes dizer que nós temos que olhar para o futuro».

Numa frase, duas incorrecções de quem a proferiu, o ministro da Saúde português Correia de Campos, num debate sobre o encerramento de maternidades no programa “Prós e Contras”, da RTP-1.

A primeira diz respeito à colocação do pronome e, a segunda, ao emprego de ter que em vez de ter de.

O pronome lhes deveria estar ligado ao verbo que o tem como complemento, que é o verbo dizer: «Eu queria dizer-lhes».

1.«Acho tremendamente enorme que Barcelos, por exemplo, tenha 37% de cesarianas, quando só aceita grávidas normais.»1
     Poderia ter-se considerado tremendo que Barcelos tivesse 37% de cesarianas ou enorme a percentagem de cesarianas. Desadequada foi a utilização do adjectivo enorme para caracterizar ou qualificar o que se exprimiu numa oração («que Barcelos tenha 37% de cesarianas»). O adjectivo enorme liga-se a...