Dicionário do Diabo
Sob a chancela da editora Tinta da China, e com tradução de Rui Lopes, o Dicionário do Diabo, aclamada obra do jornalista e escritor americano Ambrose Bierce (1842-1914) ,foi publicado em Portugal em 2006 1.
Como assinala Pedro Mexia, autor do respetivo prefácio, esta obra em nada se assemelha aos dicionários comuns, não sendo, para isso, informativo. Num texto manifestamente sarcástico, o autor lança um olhar nada benigno sobre alguns dos pilares da sociedade do seu tempo (fins do século XIX): o patriotismo, o colonialismo, o militarismo, o clericalismo e a demagogia democrática). E, igualmente, o vícios humanos de sempre: o oportunismo, a hipocrisia, a estupidez, a cupidez ou a vigarice.
A título de exemplo, vejam-se as entradas dos termos comércio («uma forma de transacção na qual A saquia B os bens de C e, em compensação, B rouba a carteira de D com o dinheiro que pertence a E»2), economia («adquirir o barril de uísque que não é necessário pelo preço da vaca que não se tem dinheiro para comprar»), batalha («uma forma de desatar com os dentes um nó político que resiste à língua»), mediar («meter o bedelho»), nascimento («o primeiro e o mais terrível de todos os desastres») ou o adjetivo possível («tudo, para aquele que tem paciência – e dinheiro»).
Organizado como um dicionário comum – portanto, com os verbetes organizados alfabeticamente com a devida definição –, o livro inclui sugestivas imagens, da autoria do ilustrador galês Ralph Steadman.
Originalmente publicado em 1906, o tempo em nada desatualizou este tão contundente Dicionário do Diabo. Antes pelo contrário.
1 Com publicação também no Brasil.
2 A tradução para Portugal segue a ortografia de 1945.
Cf. 5 trechos; Dicionário do Diabo, Ambrose Bierce + Leituras do Solari + Citações