A linguagem de Aquilino Ribeiro (1885-1963) é sempre desafiante, e quantas vezes não é sem dificuldade que a leitura avança nas páginas escritas pelo autor. Não constitui, portanto, gesto inédito a sempre útil elaboração de glossários para compreender os numerosos vocábulos populares, sobretudo das Beiras, que recheiam os romances aquilinianos. Entre alguns estudos, contam-se o Glossário Sucinto para Melhor Compreensão de Aquilino Ribeiro (1959), de Elviro da Rocha Gomes, e a Contribuição para o estudo do Vocabulário de Aquilino Ribeiro (1968), de António Faria.
Não está, portanto, desacompanhado este Glossário Aquiliniano, de Henrique Almeida, também natural da Beira, que o publicou em 1989 e, trinta anos depois, o reeditou com a colaboração de António A. Fernandes, para assinalar o centenário da obra Terras do Demo (1919), como justifica no prefácio (pp. 5/6):
«[...] impunha-se uma revisão crítica reformulada e atualizada. O objetivo último é contribuir para a leitura integral da obra e presta, mais uma vez, uma homenagem sentida de um autor beirão pelo beirão Aquilino Ribeiro e pelas Terras do Demo.»
Convém aqui explicar que Terras do Demo é o título romanesco criado por Aquilino que passou também a identificar os concelhos viseenses de Sernancelhe, Moimenta da Beira e Vila Nova de Paiva. Foi nesta região do centro-norte interior que Aquilino Ribeiro encontrou inspiração para dar ao regionalismo a função paradoxal de revelar o que há de mais fundamente humano. Reunindo principalmente expressões populares, o Glossário Aquiliano regista assim casos menos (ou nada) correntes na atualidade, como sejam os de aqueibar («deter, aqueitar,serenar»), carripoto («carvalho anão ou novo roído dos gados, torto e cheio de nós; varapau»), estrangeirinha («artimanha para lograr velhacaria»), fusgar («procurar, buscar, farejar»), gorovinhas («dobras, rugas no vestuário»), lidairada («grande lida, azáfama, canseira, boa vida, vadiagem»), passadio («alimentação diária») e ustir («suportar, queimar»).
O Glossário Aquiliniano oferece, portanto, mais uma chave de acesso ao mundo deste autor português tão envolvido no culto da materialidade local da palavra.
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