Identidade e Resistência da Língua Portuguesa em Timor Leste é um livro que resulta da dissertação de mestrado em Estudos Lusófonos de Literatura que João Pedro Góis realizou na Universidade de São José.
Como se antecipa no título, o autor pretende expor de que forma o uso da língua portuguesa serviu de instrumento de comunicação privilegiado pela Resistência Timorense durante o durante o período de ocupação de Timor-Leste pela Indonésia entre 1975 e 1999. Para o efeito, analisa-se a obra Crónica de uma travessia – A época do Ai-Dik-Funam de Luís Cardoso, na qual se encontram pistas para entender como foi possível manter viva a língua portuguesa neste território asiático que sofreu uma estratégia de apagamento ao longo de um quarto de século. Com efeito, durante o período desta ocupação, estava vedada a expressão em língua portuguesa, embora esta fosse utilizada secretamente pela Resistência Timorense. O português implantou-se assim em Timor-Leste e resistiu à tentativa de aniquilação pretendida pelas autoridades indonésias, porque uma pequena massa crítica de timorenses o usou como arma de defesa contra a opressão a que estavam sujeitos.
Dedicado ao povo timorense, o livro apresenta um prefácio do próprio autor da obra analisada,Luís Cardoso. Depois, o corpo do trabalho reparte-se por cinco secções ou capítulos: uma introdução (pp. 17-23); um enquadramento histórico, com ênfase na repercussão identitária do português (pp. 25-57); outra parte (pp. 59-70), abordando a produção literária timorense em português; uma quarta secção (pp. 71-142), mais extensa, onde se desenvolve a análise de Crónica de uma Travessia. Um breve quinto capítulo apresenta as conclusões (143-145), entre as quais se destaca a seguinte passagem (p. 144): «No cenário de terror e perseguição da língua portuguesa,os timorenses continuaram a valorizar, usar e proteger a língua portuguesa, por considerarem que "faz parte do seu ADN cultural" (FELGUEIRAS, 2017)*, como elemento de valorização da sua cultura e referência da sua identidade.»
Com este estudo do romance de Luís Cardoso, coloca-se, portanto, em perspetiva o duplo papel da língua portuguesa como referencial afetivo de um povo expropriado do seu território e como instrumento político na construção do respetivo país.
* Pe. João Felgueiras, "As Raízes da Resistência", Revista Camões, n.º14, 2001, pp. 42-49.
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