Num programa de rádio, levanta-se a questão: será que se pode falar de um grupo, quando se considera um conjunto de duas pessoas? Com base nas definições dos dicionários, Sara Mourato aborda este tópico.
Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2. Com pós-graduação em Edição de Texto, trabalha na área da revisão de texto. Exerce funções como leitora no ISCTE.
Num programa de rádio, levanta-se a questão: será que se pode falar de um grupo, quando se considera um conjunto de duas pessoas? Com base nas definições dos dicionários, Sara Mourato aborda este tópico.
Seria correto alguém se referir ao aluno de pós-graduação em sentido amplo (especialização, no Brasil) como "especializando", por analogia a mestrando e doutorando?
Grato.
A forma especializando, no sentido de «pessoa que está a fazer um curso de especialização», pode ocorrer como nome (cf. doutorando).
É palavra que coincide com o gerúndio de especializar e se forma por analogia a licenciando, mestrando e doutorando, portanto, no quadro das regras da morfologia do português1. Note-se, porém, que os dicionários aqui consultados ainda não a atestam como nome nem como adjetivo. Mesmo assim, é de assinalar que uma consulta Google evidencia o uso frásico da expressão «o especializando» em muitas páginas do Brasil; por exemplo: «[É objetivo do curso] capacitar o especializando a indicar e realizar os procedimentos de fisioterapia nas diversas áreas de Saúde da Mulher, como Obstetrícia, Oncologia e Ginecologia» ("Fisioterapia", Escola de Extensão da Unicamp; página consultada em 10/02/2022).
1 O sufixo -ndo/-nda «corresponde em português a adjetivos e substantivos com a noção de "o ou que deve ser (mais a noção do radical)"; trata-se, em geral, de neologismos do século XX, conexos com o incremento do ensino e da divisão do trabalho físico e mental» (Dicionário Houaiss).
2 Consultaram-se o Dicionário Infopédia, o Dicionário Priberam, o dicionário da
Em relação ao prefixo pan-: como ajustá-lo diante das consoantes b e p?
A dúvida surgiu ao ler a palavra "pamprincipiologismo" em um artigo acadêmico; apesar de transgredir a regra geral de não utilizar hífen antes de consoantes, não seria melhor "pan-principiologismo"?
A forma pamprincipiologismo está correta.
O Acordo Ortográfico de 1990 determina que, com os prefixos circum- e pan-, só se usa hífen «quando o segundo elemento começa por vogal, m ou n [e h]: circum-escolar, circum-murado, circum-navegação; pan-africano, pan-mágico, pan-negritude» (base XVI, ponto 1). Deduz-se, assim, que, nas palavras começadas por p ou b, não se hifeniza o prefixo pan-. Ora, uma vez que, na mesma palavra, a ortografia convenciona o uso da nasal m antes de p e b (ver esta resposta), deve proceder-se à substituição do n de pan- por um m.
Assim, de acordo com o exposto, o correto é pamprincipiologismo («produção de princípios jurídicos sem normatividade para fundamentar decisões jurídicas»), com pam- antes de p – p.ex., pampsiquismo (de pan-+ psiquismo) e pamprodáctilo (de pan- + prodáctilo) –, ou -b – p. ex. pambabilonismo e
Por força da evolução tecnológica, o que não passava de ficção científica, materializou-se e hoje há um novo universo denominado metaverso. Qual é a origem deste termo e qual é o seu verdadeiro significado? Terá Mark Zuckerberg responsabilidade na criação do mesmo? Um apontamento de Sara Mourato que procura dar resposta a estas questões.
Ouvi dizer «ele saboteou» o que me faz assumir que existe o verbo sabotear, senão seria «ele sabotou» de sabotar.
Poderiam esclarecer a minha dúvida?
Muito obrigada pela atenção.
Não há registo em nenhum dicionário consultado, de português de Portugal e de português do Brasil1, do verbo "sabotear", pelo que se assume que o mesmo não existe em língua portuguesa. Contudo, páginas como Conjugação de Verbos e Dicionário Informal registam este verbo, o que não quer dizer que a forma em apreço tenha aceitação. O que pode acontecer é que haja interferência da língua espanhola na qual o verbo sabotar – «praticar sabotagem em; danificar, voluntariamente, intrumentos, máquinas, oficinas, etc., geralmente como meio de represália ou reivindicação; impedir o sucesso de alguma coisa, destruir, minar» (Infopédia) – é traduzido por sabotear.
1 Foram consultadas obras como: Infopédia, Priberam, Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Houaiss, Michaelis, Aulete e Guia de Uso...
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