Agostinho de Campos - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Agostinho de Campos
Agostinho de Campos
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Agostinho de Campos (Porto, 1870 – Lisboa, 1944), professor universitário, jornalista e escritor português. Autor de diversas obras sobre temas pedagógicos, literários, políticos e linguísticos, de entre as quais se releva Glossário (1938), Língua e Má Língua (1944) e Falas sem Fio (postumamente, entre 1943 e 1946). Coligiu os 24 volumes de Paladinos da Linguagem, coletânea de autores clássicos portugueses e brasileiros.

 
Textos publicados pelo autor
A linguagem do Natal
Da etimologia à pressão dos galicismos

Num texto de 1941 e retirado de Língua e Má Língua (1944), o escritor e jornalista português Agostinho de Campos (1870-1944) dava conta da etimologia do nome próprio Natal, comparando-o com os de outras línguas de origem europeia: Navidad, em castelhano; Noël, em francês; Natale, em italiano; Christmas, em inglês; Weihnachten, em alemão. Foca também a origem do vocábulo consoada, ainda hoje referente ao jantar da véspera de Natal. O autor identifica depois alguns aspetos da pressão que o francês exercia então na denominação de vários momentos desta quadra festiva.  Alguns termos ainda hoje perduram em Portugal, como sejam Pai Natal (no Brasil, Papai Noel), ao que parece uma adaptação de Père Noël, e o galicismo réveillon, para designar a festa da passagem de ano. Manteve-se a ortografia do original.

«Pontos de vista»
Uso e preceito

A história de «ponto de vista» segundo Agostinho de Campos, que junta alguns preceitos para o uso desta locução, num texto de 1939, incluído em  Língua e má língua (Livraria Bertrand, 3.ª edição, 1945; mantém-se a grafia original).

«Viagens quási maravilhosas através da linguagem»
A polissemia do adjetivo bom

«Se um estrangeiro nos perguntar à queima-roupa o que quere dizer a palavra «bom», é fácil respondermos-lhe que chamamos «bom» a tudo o que tem bondade, e «bons» às criaturas bondosas. Mas a coisa não é tão simples na língua portuguesa, e igual complicação se encontrará nas outras línguas  com as palavras correspondentes.» Com estas e outras considerações, o escritor, jornalista, pedagogo e político português Agostinho de Campos (1870-1944) evidencia a polissemia do adjetivo bom e comenta o seu uso estilístico, neste trecho extraído de Língua e má língua (Livraria Bertrand, 3.ª edição, 1945; manteve-se a ortografia do original).

O caos gráfico

Até 1911, ano da entrada em vigor da sua primeira reforma ortográfica, a língua portuguesa – como recorda o autor, na Introdução do terceiro volume da antologia Paladinos da Linguagem (ed. Livrarias Aillaud e Bertrand, 1923) – era «o único dos grandes idiomas cultos europeus que não tinha ainda o seu cânone ortográfico seguro, coerente e fixo». Reinando até aí «o puro arbítrio de cada escritor ou escrevente», a verdade é que, onze anos passados da sua adoção como lei do país, seguida em todas as publicações oficiais e escolares, ainda se faziam ouvir, alto e em bom som, os ecos dos que se opunham às novas regras da escrita do português, elaboradas pelos filólogos portugueses Adolfo Coelho, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Cândido de Figueiredo, Gonçalves Guimarães, Gonçalves VianaJ.J. NunesJosé Leite de Vasconcelos e Júlio Moreira. Com as suas particularidades, como se explana – e contesta – no que a seguir se transcreve na íntegra.

«Parelha de tendência do povo rude para considerar a sua língua como a única de gente, existe nele uma outra, contraditória com esta: é a facilidade infantil com que o povo esquece a própria língua, mal entra em contacto com outra, e logo passa a aprender e a estimar esta com prejuízo da sua. [...] Um deles representa a tendência purista exagerada e fechada, desejosa de fazer voltar a linguagem a modelos antigos e já mortos, tratando-a como se ela fosse uma língua morta – a única língua de gente, digna de ser embalsamada, mumificada [...]. O outro, ao contrário, dá-nos o esquema do homem que a falar, e sobretudo a escrever, se deixa desnacionalizar facilmente, porque não pôde ou não quis aprender bem a sua língua, e por isso a não ama nem respeita.» Texto que reflete sobre a atitude dos portugueses perante a sua língua.