Pergunta:
Minha dúvida é sobre a regência do verbo julgar.
Trato comumente com questões de vestibular e, uma vez por outra, deparo-me com frequência com construções do tipo «julgue as afirmativas COMO verdadeiras ou falsas» e «julgue as afirmativas EM verdadeiras ou falsas». Qual está correta?
Como classifico as informações depois do como e do em? Trata-se de um predicativo do complemento direto nesse tipo de informação?
Os meus parabéns pela vossa excelente contribuição.
Resposta:
A frase em questão apresenta um uso do verbo julgar que envolve um predicativo do complemento direto (objeto direto) introduzido pela conjunção como e pela preposição em, de acordo com o esquema «julgar alguma coisa como/em (+adjetivo)». Trata-se de um uso que não encontra registo em dicionários, gramáticas ou guias de uso.
Não é este emprego de julgar claramente ilegítimo ou impossível – é-o, como bem exemplifica o consulente –, mas é de supor que tais ocorrências sejam marginais em relação à sintaxe típica deste verbo. Na verdade, mais corrente é julgar figurar em frases com as aceções de «imaginar, supor» associadas ao seu comportamento como verbo transitivo-predicativo, isto é, com um complemento direto e um predicativo do complemento direto sem preposição ou conjunção: «julguei estas frases verdadeiras».
Pode-se, em alternativa, empregar-se classificar, definir ou identificar no contexto em questão:
(1) «Classifique/defina/identifique as afirmativas como verdadeiras ou falsas.»
Note-se que o constituinte introduzido pela conjunção como é um predicativo do complemento direto (objeto direto no Brasil). Mas quer ocorra julgar, quer figure classificar na frase (1), não parece aceitável que ao predicativo do sujeito se junte a preposição em, o que não invalida que esta preceda um substantivo, conforme a frase (2), ou introduza um modificador do predicado (um adjunto adverbial no Brasil), de acordo com a frase (3):
(2) «Julguei-a na faculdade.»
(3) «Julgaram-no no...