Pergunta:
Sou brasileira e vivo em Portugal há muitos anos. Cada vez mais tenho lido e ouvido na comunicação social portuguesa e brasileira a estrutura irá (verbo auxiliar no futuro simples) + infinitivo (verbo principal), como «irá fazer», «irá apresentar», etc. Já consultei mais de três gramáticas brasileiras, duas normativas e uma descritiva (infelizmente não tenho nenhuma gramática portuguesa, e não encontrei nada acerca desta estrutura de formação de futuro, apenas uma breve menção sem qualquer comentário pertinente no Guia de Uso do Português, de Maria Helena Moura Neves. Minha questão é: trata-se de um desvio da norma e uma inovação da língua? Caso não o seja, poderiam indicar-me uma gramática ou artigo científico que valide esta norma?
Muito obrigada.
Resposta:
Na perífrase ir + infinitivo, aceita-se o auxiliar no futuro («irá apresentar»), sem que a respeito desse uso haja tradição de censura normativa.
Em frases simples, a construção com o auxiliar no futuro pode ter o mesmo significado que tem quando ir ocorre no presente; mas o futuro pode marcar também a redução do grau de certeza acerca da eventualidade do estado de coisas descrito, conforme certos usos do futuro com verbos simples – cf. Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 526). Em orações subordinadas, é também possível o futuro, como se observa na Gramática do Português (p. 1263):
«Quando ocorre na oração subordinada de uma frase complexa, a perífrase exprime futuridade relativamente ao tempo da oração principal, tomado como ponto de referência.
(63) a. A Ana diz que vai ficar em casa.
b. Porque pensas que a Sofia Loren irá deixar o cinema. [...]
[...] em orações subordinadas, o verbo ir ocorre no presente ou no futuro quando o tempo de referência da oração principal é o presente [...].»
O que transcrevo corresponde a uma descrição de usos linguísticos, e não a um juízo prescritivo. De qualquer modo, nas fontes a que tenho acesso, não acho doutrina normativa que condene os usos acima apresentados. Sendo assim, face à eventual objeção de o auxiliar no futuro gerar redundância, considero que, pelo contrário, é legítimo empregar o...