Pergunta:
Por imposição do terceiro artigo da Base XV do Acordo Ortográfico de 1990, emprega-se o hífen «nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; bênção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio, bem-me-quer».
Esta nova regra contradiz aquela que foi a prática dos naturalistas portugueses desde o Iluminismo até ao terceiro quartel do século XX: usar o hífen apenas em nomes vernáculos compostos por justaposição de substantivos ou por locuções verbais. Por exemplo, enquanto um incontornável botânico como AX Pereira Coutinho escrevia sem hífen, no seu Esbôço de uma flora lenhosa portuguesa (1936) nomes como castanheiro da Índia, pinheiro silvestre, e hifenizava somente nomes como alegra-campo, já o presente AO recusa tal variação.
Qual o motivo de tal escolha, tão em contraste com as tradições ortográficas do nosso idioma, e mesmo em contrapelo com as práticas científicas nas línguas castelhana, francesa e italiana?
Resposta:
O consulente apresenta exemplos anteriores ao próprio acordo que vai deixar de estar vigente, o de 1945 (AO 45). Sucede que, neste mesmo acordo, já os compostos, pelo menos, designativos de espécies botânicas, que incluíam uma preposição ou a contração de preposição com artigo, eram apresentados com hífen, ao lado de outros compostos sem esse elemento de ligação (Base XXVIII):
«Emprega-se o hífen nos compostos em que entram, foneticamente distintos (e, portanto, com acentos gráficos, se os têm à parte), dois ou mais substantivos, ligados ou não por preposição ou outro elemento, um substantivo e um adjectivo, um adjectivo e um substantivo, dois adjectivos ou um adjectivo e um substantivo com valor adjectivo, uma forma verbal e um substantivo, duas formas verbais, ou ainda outras combinações de palavras, e em que o conjunto dos elementos, mantida a noção da composição, forma um sentido único ou uma aderência de sentidos. Exemplos: [...] brincos-de-princesa, [...] erva-de-santa-maria, [...] rainha-cláudia, rosa-do-japão, [...] amor-perfeito, [...] bem-me-quer, bem-te-vi.»
Trata-se, portanto de uma escolha que, na prática, não tem verdadeiramente origem no Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90), mas, sim, no AO 45. Contudo, o uso de hífen em compostos com formas de ligação não é um preceito explicitado nem generalizado pelo acordo em apr...