Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
435K

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Na frase «As circunstâncias são de vária ordem», existe algum erro? Porque é que não se utiliza o plural?

Grata pelo esclarecimento.

Resposta:

Não há erro na frase, porque a expressão «de vária ordem» se usa geralmente com o singular ordem. Também não se pode afirmar que o plural está incorrecto: «circunstâncias de várias ordens». Contudo, apesar de a expressão não estar dicionarizada1, importa é assinalar que se trata de uma expressão que cristalizou no uso assim mesmo, com o singular de ordem. O mesmo acontece com «de natureza vária», que pode referir-se a uma pluralidade; p. ex.: «construções de natureza vária». As expressões fixas têm estas idiossincrasias.

1 Dicionários consultados: dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa, de Énio Ramalho (Porto, Lello e Irmão Editores, pág. 1985), Dicionário Houaiss, Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

Pergunta:

Na frase «A viagem para Portugal será amanhã», qual seria a função sintática de «para Portugal»? Se a função é de adjunto adverbial, qual seria a explicação, já que o termo está se referindo a um nome e não a um verbo?

Resposta:

O constituinte em questão não é um adjunto adverbial, porque não é um «termo de valor adverbial que denota alguma circunstância do facto expresso pelo verbo, ou intensifica o sentido deste» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições Sá da Costa, 1984, pág. 152).

Como «para Portugal» completa o sentido do substantivo viagem — trata-se do respectivo destino —, diz-se que é um complemento nominal, «ligado por preposição ao substantivo [...] cujo sentido integra ou limita» (idem, pág. 140).

Pergunta:

Qual a origem do nome Figueiredo?

Resposta:

O apelido Figueiredo tem origem no topónimo Figueiredo (José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa). Este, por sua vez, tem origem no substantivo comum figueiredo, que é o mesmo que figueiral, «extenso aglomerado de figueiras em determinada área» (Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Qual é a forma mais correta:

«usou-se um espectrofotómetro acoplado com um potencióstato»

ou

«usou-se um espectrofotómetro acoplado a um potencióstato»?

Muito obrigada.

Resposta:

O verbo acoplar está  ligado à ideia de «juntar», «ligar». Consideramos mais aceitável a regência a — «acoplar a».
 
Contudo, no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, o verbo acoplar também surge com a regência com («acoplar uma nave com um satélite»).

Pergunta:

Sei que não faz muito sentido utilizar os títulos académicos nos dias de hoje. Mas, principalmente em Portugal, vivemos numa sociedade que preza, porventura de mais, esse tipo de considerações para licenciados e demais títulos académicos.

Sempre tive a dúvida de como abreviar os títulos académicos, sendo que, nos meus tempos de estudo universitário, embora não tendo sido explicado, foi-me instruído que abreviasse da seguinte forma os graus académicos:

Licenciado = Dr.

Mestre = Prof. Dr.

Doutor = Prof. Doutor ou simplesmente Doutor

Isto está correcto ou tem algum fundamento?

Tentei ver na Internet, mas não está fácil. Muitos classificam por exemplo o mesmo com a abreviatura "Me".

Obrigado pela atenção.

Resposta:

A lista de abreviaturas apresentada não está completamente correcta.

Com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Porto Editora, pode confirmar-se que, em Portugal, é habitual usar-se a abreviatura Dr. (feminino Dra.)1, para designar um licenciado ou um mestre2, incluindo os médicos.

O VOLP não inclui a abreviatura correspondente a «professor doutor», mas o registo de Prof. (feminino Prof.ª) sustenta a forma Prof. Dr. (feminino Prof.ª Dra. ), usada em referência a um doutorado que é professor no ensino universitário ou politécnico.

Quando se trata de investigador doutorado, não se usa abreviatura, mas, sim, o título Doutor.

1 Sobre o uso de maiúscula inicial, ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990, consultar a resposta O uso de maiúsculas em axiónimos e hagiónimos.

2 Para o grau de mestre, existe a abreviatura M.e, que até agora tem tido emprego nulo ou muito escasso.

N. E. (atualização em 24/01/2019) – Apesar de estar muito difundida a forma Dra., e o ...