Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Vi o termo sortal em inglês, referindo-se a um conceito de John Locke. Existe algo semelhante em português?

Resposta:

O termo filosófico inglês sortal, usado pelo filósofo inglês John Locke (1632-1704), é traduzido de muitas maneiras em português. Por exemplo, como categorial em Fernando Martinho, Sintaxe e Semântica dos Adjectivos Graduáveis em Português (Universidade de Aveiro, 2007, pág. 33):

«Lynne Tirrell (1991: 346-347), por sua vez, apresenta seis categorias em que os dois termos da metáfora, A e B, podem ou não estar presentes: [...] 3) predicações categoriais ("sortal predications") do tipo "A é um K", que parecem combinar as duas primeiras categorias [...].»

Sendo assim, é muito difícil estar a dar conselhos à consulente sem conhecer precisamente o contexto de ocorrência do termo sortal. Além disso, será necessário recorrer à ajuda de um especialista, ao que parece, em filosofia, que tenha também bons conhecimentos sobre as terminologias que na referida área são usadas, pelo menos, em português brasileiro.

Pergunta:

Qual a origem do sobrenome Azinheira?

Resposta:

O apelido/sobrenome Azinheira começou por ser uma alcunha, com origem no substantivo comum azinheira (José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa). No Tratado das Alcunhas Alentejanas (Lisboa, Edições Colibri, 2003, pág. 50), de Francisco Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva, regista-se Azinheira como alcunha que passou a apelido/sobrenome; no verbete respectivo, s .v. Azinheira(s), lê-se: «[...] os elementos desta família eram muito altos e bem constituídos. Ainda vivem neste concelho (Nisa). Existe também em Campo Maior e Reguengos de Monsaraz.»

Também não me parece de excluir que Azinheira, como apelido/sobrenome de certas famílias, tenha surgido primeiro como forma de identificar um antepassado pela sua proveniência — «o (que vem da) Azinheira» —, porque, por exemplo, Machado (op. cit.) acolhe essa forma como topónimo localizado na região de Santarém (Covão da Azinheira), em Portugal.

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem se as palavras «estações base» devem, ou não, ser ligadas por um hífen, uma vez que as encontro escritas das seguintes formas: «estações base» e «estações-base».

Obrigada.

Resposta:

A ligação por hífen não é obrigatória, mas acontece que a expressão é formada por dois nomes, tendo o segundo elemento a função de especificar o primeiro. Nesse caso, recomenda-se o emprego de hífen. Por isso, recomendo: estação-base, à semelhança de salário-base.

Assinalo que o Dicionário Houaiss apresenta dois plurais para salário-base: salários-bases e salários-base. Do mesmo modo, é de supor que o plural de estação-base corresponda a estações-base e estações-bases. No entanto, tendo em conta que o que se  pretende designar não é uma realidade que coordena duas funções (a de estação e a de base), mas, sim, um tipo de estação, considero preferível a forma estações-base.

Pergunta:

Gostaria de saber qual é o diminutivo de Bianca, pois tenho duas filhas: a primeira se chama Beatriz e já a chamo de Bia, e a Bianca de Bianca mesmo, pois não acho que o diminutivo de Bianca seja Bia e sim Bianquinha. Qual é o correto, por favor?

Resposta:

O nome próprio Bianca tem como versões de tratamento carinhoso (hipocorístico) as formas Bia e Bianquinha, bem como outras sujeitas à criatividade do meio familiar, não se podendo afirmar que uma forma é mais correcta do que outra. A diferença entre Bia e Bianquinha resulta apenas do contraste entre dois tipos de hipocorísticos.

Como diz o Dicionário Houaiss, um hipocorístico é uma «modificação do prenome (ou qualquer palavra us. antroponimicamente), pela qual se designa carinhosamente a pessoa na intimidade, estendendo-se tb. a animais de estimação (p. ex., Fafá, por Fátima; Cacá, por Carlos; Chaninho por Bichano)». São hipocorísticos, por exemplo (idem):

a) diminutivos: Luís > Luisinho;

b) aumentativos: Luís > Luisão;

c) truncamentos e reduções: Cristina > Tina; Norberto > Berto;

d) redobros silábicos: Mariana > Nana;

e) a combinação dos recursos anteriores:

Pergunta:

A expressão trade mark (TM) em inglês pode ser traduzida por «marca registada» (®) em português?

Resposta:

Pode e deve. «Marca registada» é mesmo a expressão equivalente a trademark (ver Dicionário Inglês-Português Oxford-Verbo, 2003). No Prontuário de Erros Corrigidos de Português, de D´Silvas Filho (4.ª edição) registam-se como reduções a forma TM para «marca registada» e o símbolo ® para «registado».1

 

1 Aceitando o critério de que, em português, se deve preferir a redução linguisticamente consentânea com a palavra ou a expressão representadas, ® salienta-se como forma a favorecer, porque alude ao adjectivo registada e não se liga a elementos de origem estrangeira, ao contrário de TM, onde T figura em lugar da palavra inglesa trade.