Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual o processo de formação das palavras pequeno-almoço e obras-primas? Fazem parte da composição morfossintáctica de subordinação, ou de coordenação?

Resposta:

O processo de formação das palavras em apreço é, como refere, composição morfossintáctica. Considerando que ambas as palavras do conjunto sofrem flexão de número (pequenos-almoços e obras-primas), poderemos considerar que estamos perante uma composição morfossintáctica de coordenação.

Pergunta:

Na frase «As plantas do jardim cresceram rapidamente», posso considerar grupo móvel a palavra rapidamente?

Grupo nominal: «As plantas do jardim»;

Grupo verbal: «cresceram»;

Grupo móvel: «rapidamente».

Muito obrigada pela atenção.

Resposta:

O conceito grupo móvel, que não faz parte do programa de língua portuguesa ainda em vigor, nem é contemplado no Dicionário Terminológico, tem um significado de fácil apreensão: é móvel, numa frase, a palavra ou grupo de palavras que pode mudar de posição sem alterar, significativamente, o sentido da frase. É, normalmente, constituído por um advérbio ou por um grupo preposicional.

Assim, se manipularmos a frase em apreço, poderemos concluir que o advérbio rapidamente pode, efectivamente, mudar de posição, pelo que encaixa na definição de grupo móvel:

1. «Rapidamente, as plantas do jardim cresceram.»
2. «As plantas do jardim rapidamente cresceram.»
3. «As plantas do jardim cresceram rapidamente.»

 

À luz do Dicionário Terminológico, que entrará, plenamente, em vigor no próximo ano lectivo, a frase em apreço divide-se em dois grandes grupos, que são os dois grupos essenciais na estrutura de uma frase: um grupo nominal e um grupo verbal. No interior deste, por seu lado, encontraremos um grupo adverbial, constituído pelo advérbio rapidamente.

Pergunta:

Antes de colocar a minha dúvida, aproveito para felicitar a equipa que faz este trabalho notável em prol do (bom) emprego da "nossa" língua.

A minha questão: sabendo que os verbos se podem classificar como auxiliares, principais (transitivos diretos, indiretos, diretos e indiretos e intransitivos), copulativos, impessoais... como se pode classificar o verbo na frase «Desloquei-me ao Porto»?

Sendo «ao Porto» um grupo preposicional com função de complemento oblíquo, é pedido pelo verbo?

Agradecia o esclarecimento desta dúvida, cuja resposta não encontrei nas gramáticas nem no Dicionário Terminológico.

Resposta:

No Dicionário Terminológico surge a seguinte definição de verbo transitivo indirecto:

«Verbo principal que selecciona um sujeito e um complemento indirecto ou oblíquo.»

Com base nesta definição, o verbo deslocar, na frase em apreço, é um verbo principal, transitivo indirecto.

Alguns gramáticos indicam-no como transitivo oblíquo.

Pergunta:

É normal escrever-se um substantivo no singular acompanhado da terminação do seu plural entre parêntesis, por exemplo, documento(s) ou autor(es).

Gostaria de saber se o mesmo também se aplica a substantivos cujo plural se forma mudando:

ão em ões/ão em ães, por ex.: organização(ões)?

al, el, ol, ul mudando o l em is, por ex.: metal(ais)?

Não me parece correto, uma vez que a formação do plural não ocorre com a simples junção de um s, mas, sim, com a troca de ão por ões, por isso a minha dúvida.

Muito obrigada.

Resposta:

A questão que apresenta é, sobretudo, do âmbito da representação gráfica e é omissa em todos os documentos que analisei, embora em alguns se recorra ao acréscimo do (s) ou da sequência (es) para designar a possibilidades de alteração entre o singular e o plural. Em relação à situação específica das palavras terminadas em ditongo nasal e em –l, tal como diz, a mudança entre o singular e o plural não ocorre pela simples aposição de letras, pois obriga a alterações que, no caso dos ditongos nasais, chegam à consoante que inicia a sílaba.

Pessoalmente – por falta de documentação que foque explicitamente o facto, só posso falar do que penso sobre o assunto  embora reconheça que o uso da estrutura alternativa  organização (ões vem sendo usada, creio que é um tipo de organização textual a evitar sempre que possível.

Pergunta:

Tenho uma dúvida sobre a utilização do pretérito perfeito e do pretérito mais-que-perfeito.

Rigorosamente, a sentença «Antes de morrer, ele deixou um testamento» estaria errada? Haveria de ser necessariamente a forma correta «Antes de morrer, ele deixara um testamento»?

Resposta:

O pretérito mais-que-perfeito é utilizado sempre que há duas orações com o verbo explicitado, ambas ocorrendo no passado e sendo uma anterior à outra. Por exemplo, na frase «O João morreu, mas tinha feito (fizera) testamento». O exemplo que apresenta contém, em termos estruturais, algumas características de uma relativa informalidade. Antes de mais, uma pessoa deixa o testamento quando morre, e não antes de morrer. Antes de morrer, faz o testamento, que depois deixará… Se o verbo, em vez de deixar, fosse fazer, ambas as possibilidades que apresenta seriam adequadas, embora possam ter diferenças de interpretação.

1. «Antes de morrer, ele fez um testamento.»

Mesmo que consideremos a locução temporal «antes de morrer» como uma acção, uma vez que contém um verbo, ambas as acções se situam num tempo anterior à morte. Neste caso, o foco do discurso está nesse tempo anterior no qual foi feito o testamento.

2. «Antes de morrer, ele tinha feito (fizera) um testamento.»

Neste caso, o foco do discurso situa-se num tempo em que já ocorreu a morte. Está, por isso, subjacente a oração «morreu», e o texto completo seria «Morreu, mas, antes de morrer, ele tinha feito (fizera) um testamento».

Refira-se ainda que o pretérito mais-que-perfeito simples é menos usual, e mais formal, do que o composto.