«Não se pode dizer de língua alguma que ela é uma invenção do povo que a fala. O contrário seria mais exacto. É ela que nos inventa. A língua portuguesa é menos a língua que os portugueses falam, que a voz que fala os portugueses. Enquanto realidade presente ela é ao mesmo tempo histórica, contingente, herdada, em permanente transformação e trans-histórica, praticamente intemporal. Se a escutássemos bem ouviríamos nela os rumores originais da longínqua fonte sânscrita, os mais próximos da Grécia e os familiares de Roma.»
Artigo de Eduardo Lourenço (1923-2020) escrito em Vence, em 11 de Fevereiro de 1992, para o Atlas da Língua Portuguesa na História e no Mundo (coord. por António Luís Ferronha, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda/Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses/União Latina, pp. 12/13). Posteriormente incluído no livro A Nau de Ícaro seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia (2.ª ed. Lisboa, Gradiva,1999, pp. 121-124) e nas Obras Completas Volume IV – Tempo Brasileiro: Fascínio e Miragem (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2018).