José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor
/Félis/, tal como quer e diz, sempre, Bagão Félix

A propósito da vitória da atleta portuguesa Dulce Félix nos 10 000 metros dos Campeonatos  Europeus de Atletismo, em Helsínquia, voltou a ouvir-se a pronúncia errada de “Féliks”. (...)

Um superlativo <b>mais bem estudado</b>, convinha...

Qualquer bom aluno sabe que a forma melhor do advérbio bem não se utiliza antes do particípio passado dos verbos usados com valor adjetival, mas, sim, a forma analítica mais bem (mais bem feito, mais bem estudado, etc.).

Não é, manifestamente, o caso ao lado assinalado1. Um caso, de tão repetido, que justificava, pois, uma melhor preparação. Era só o assunto estar mais bem estudado no jornal que erigiu o Acordo Ortográfico como fonte de todos os maus tratos à língua portuguesa.

 

Nada a fazer: o modismo do "Rónaldo", com o o artificialmente aberto, pegou de estaca no audiovisual português.

Pergunta:

Pelo Acordo Ortográfico, deverá escrever-se «bola de Berlim», ou «bola-de-berlim»? Encontrei sites, na Internet, que utilizam formas diferentes. Trata-se de sites onde não existe a preocupação da escrita cuidada, pelo que não me merecem confiança.

E estará correto dizer – ou escrever – «uma árvore gigantérrima»?

Resposta:

Com s novas regras do uso do hífen, bola de Berlim1 escreve-se sem hífen [Base XV do Acordo Ortográfico: Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos].

Já era assim em Portugal, antes do Acordo Ortográfico, tal como «bola de cristal», «bola de fogo», «bola de gude», «bola de neve», «bola de sabão», etc. No Brasil, os dicionários registavam com hífen. Agora, sem hífen [vide Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras].

Quanto à segunda dúvida: o superlativo de gigante é gigantesco. “Gigantérrimo” é de uso da linguagem popular.

1 «Bola de berlim» (com b minúsculo) no Brasil.

 

Cf. Kennedy disse que era uma bola de Berlim?

Pergunta:

De acordo com o AO de 1945, como se devem escrever os nomes dos animais e das plantas? Sempre com hífen? Ou existem excepções? (Sei que com o AO de 1990 todos estes nomes têm hífen).

A seguir apresento alguns exemplos para me informarem como devem ser escritos correctamente de acordo com o AO de 1945: arranha-lobos, genciana-das-turfeiras, campainhas-amarelas, fava-de-água, borboleta-azul-das-turfeiras, azulinha-do-bocage, aranja-dos-charcos, nêspera-dos-lameiros, azulinha-do-tomilho, ziguena-dos-pântanos, aranha-vespa, tecedeira-acuminada.

Resposta:

Na norma de 1945 — seguida apenas em Portugal e nas suas ex-colónias entretanto independentes, razão por que, em rigor, não se pode denominá-la de acordo ortográfico — empregava-se já o hífen em todas as palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas. Nesse ponto, nada se alterou com o Acordo Ortográfico de 1990. Vide Base XV: Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares.