José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Enfrento algumas dificuldades desde a reforma ortográfica, sobretudo no uso do hífen com os compostos, e mais ainda quando me deparo com jargões específicos, que fatalmente envolverão palavras ausentes dos dicionários. Gostaria de perguntar, se possível, como se escrevem as seguintes construções (a primeira é de uso geral, as outras são eventualmente encontradas no ensino musical):

– "Página-título", ou "Página título"?

– "Retórico-musical", ou "Retórico musical"?

–"nota-contra-nota", ou "nota contra nota"?

– "nota-eixo", ou "nota eixo" (no sentido de uma nota de uma melodia que lhe serve de eixo)?

– "motivo-cabeça", ou "motivo cabeça" (no sentido de um grupo principal de notas)?

– "Estrutura-ritornelo", ou "Estrutura ritornelo" (no sentido de um tipo de estrutura)?

– "Quinta mais-que-diminuta", ou "Quinta mais que diminuta" (aqui me parece um caso complexo: pela nova ortografia temos mais-que-perfeito, mas não sei se se resolve uma dúvida dessas "por analogia").

Resposta:

O Acordo Ortográfico não altera a generalidade dos compostos assinalados. Como se pode ver nas suas Bases XV e XVI, nas regras do hífen apenas mudam as chamadas palavras prefixadas, os compostos morfológicos e as locuções. Assim:

Página-título [a tradição ortográfica vinha já grafando sistematicamente com hífen as sequências nome + nome].

Retórico-musical [retórico- é considerado pelo AO um prefixo].

Nota contra nota [tendo em conta que não se trata de uma unidade discursiva lexicalizada, mas uma expressão sintática livre (i. e., sem qualquer tipo de comportamento morfológico diferente do que teriam isoladamente as palavras integrantes desta expressão)].

Nota-eixo [nome + nome leva sempre hífen, conforme as novas regras].

Motivo-cabeça [idem].

Estrutura-ritornelo [no sentido de um tipo de estrutura, presume-se].

Quinta mais que perfeita [levam hífen só os casos explicitamente apontados no texto do Acordo Ortográfico, é o que recomenda a equipa do Portal da Língua ...

Porquê <i>blog</i> para o blogue do IILP?

Tem algum sentido que um espaço de «informações sobre promoção e difusão da língua portuguesa» – tutelado, ele próprio, pelo organismo com essas obrigações institucionais no âmbito da CPLP – prefira o nome em inglês blog, em vez de blogue1?

1 Forma há muito aportuguesada e, muito naturalmente, assim já registada pelos principais dicionários e vocabulários portugueses e brasileiros.

Pergunta:

Qual é a forma correcta em português: pré-fabricados, ou prefabricados?

Resposta:

Ambas as formas, pré-fabricados e prefabricados — registadas na maioria dos dicionários e vocabulários, antes do Acordo Ortográfico (AO) —, estão contempladas no Vocabulário Ortográfico do Português, disponível no Portal da Língua Portuguesa. O que não acontece em mais nenhum outro vocabulário (o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, e o da Academia Brasileira de Letras) ou dicionário já segundo a nova grafia (caso do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010 — ao contrário do da edição anterior, de 2004).

José Pedro Ferreira, um dos coordenadores do Vocabulário Ortográfico do Português, explica a razão das duas grafias, e a diferença de uma e de outra:

«Não são duas grafias para a mesma palavra, são duas formas diferentes, com dois elementos de formação diferentes, o que se reflete na ortografia. Os dois elementos de formação,

Pergunta:

As aspas a utilizar devem ser as aspas portuguesas («»), ou as aspas inglesas ("")?

Resposta:

Trata-se de uma questão de estilo – isto é, de gosto.

Deve é uniformizar-se a opção escolhida, em todos os documentos escritos. 

[No Ciberdúvidas, optámos pelas aspas em linha1 (« ») para assinalar as transcrições e pelas aspas elevadas2 (" ") para outras ocorrências (citações dentro das transcrições, palavras ou expressões com sentido metafórico,  de realce ou com um qualquer outro significativo, estrangeirismos, vulgarismos, etc.).] 

1 Também conhecidas por «aspas latinas» ou, na nova nomenclatura do Dicionário Terminológico (para Portugal), «aspas, simplesmente.

2 Também conhecidas por «aspas inglesas» ou, na nova nomenclatura do Dicionário Terminológico (para Portugal), «aspas altas».

 

Cf. Aspas na língua portuguesa

Pergunta:

Segue-se à abreviatura P. S. (já agora, o correto é P. S., P.S., PS. ou PS?) algum sinal de pontuação para introduzir o que se escreveu depois, ou não se deve pôr nenhum? Já observei o uso de dois-pontos, travessão e até parênteses, embora particularmente tenda a dispensá-los. Aproveitando o ensejo, deve-se escrever o que vier a seguir com letra capitular, estou certo? Abaixo está um exemplo de como utilizo o recurso.

P. S. Oportunamente, a expressão latina correspondente deve ser grafada com hífen?

Parabéns pelos excelsos serviços prestados à língua portuguesa e aos seus falantes.

Resposta:

1. Como qualquer abreviatura, a de post scriptum leva obrigatoriamente os pontos imediatamente a seguir às respetivas iniciais, sendo a mesma grafada do seguinte modo: P.S. (cf. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2009). Portanto, não há espaço ente a primeira inicial seguida de ponto – P. – e a 2.ª, simbolizada por S.

2. A seguir à abreviatura, é opcional o uso do travessão (P.S. —) ou dos dois-pontos (P.S.:). Aqui no Ciberdúvidas preferimos o travessão: P. S. —.

3. Como se inicia uma frase logo a seguir ao post scriptum, a letra inicial deve ser em maiúscula (capitular).

4. Por último, e como já se deve ter apercebido, a expressão latina não tem hífen (seguindo a norma da grafia original), o que não sucede com a sua tradução, que é hifenizada — pós-escrito (idem).