José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

1. Notícia do Telejornal da RTP-1 sobre uma acção da Cruz Vermelha na Ucrânia, a propósito dos 20 anos da fuga radioactiva na central nuclear de Chernobil , na então URSS, há 20 anos: «Vyacheslav tem 19 anos. É um dos jovens que monotoriza um problema na tiróide numa comunidade rural na Ucrânia.»
  

O primeiro-ministro [português] José Sócrates seguiu para Luanda Angola , nela se concentrando, como destacou, embevecida, a comunicação social portuguesa, um terço do PIB nacional.

Angola justifica, é verdade, o peso da comitiva de Sócrates, e espera-se que da visita, necessária e importante, resultem alargados ganhos para os dois países, ligados por laços mais afectivos do que se imagina. A verdade é que, não obstante, outros objectivos poderiam ter sido perseguidos se, para além da ide...

«Ronaldinho alertou que [Simão Sabrosa e Geovanni] se tratam de jogadores perigosos e muito rápidos». [in "24 Horas" de 28/03/2006]

A construção verbal tratar-se de, no sentido de «estar a falar-se de», só se utiliza no singular: «Trata-se de atletas empenhados», «trata-se de jogos difíceis». É o mesmo que dizer «estamos a falar de...», que se mantém in...

Pergunta:

Gostaria de saber qual a origem da expressão «deus-dará».
Obrigado.

Resposta:

A origem da expressão «ao deus-dará»1 (ao abandono, ao acaso, à toa, à aventura; estar entregue à própria sorte) é controversa. Ou melhor: tem duas explicações, conforme o lado de cá ou de lá do Atlântico.
Para Guilherme Augusto Simões2 (in Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, ed. Perspectivas & Realidades, Lisboa) a frase tem a seguinte explicação:
«(...) ao pedido de esmola que os mendigos antigamente faziam – "Uma esmolinha, por amor de Deus" –, obtinham a resposta, daqueles que nada queriam dar, "Deus dará", e assim quem andava a mendigar andava ao "Deus dará"».
Para Reinaldo Pimenta (in A Casa da Maria Joana (curiosidades nas origens das palavras, frases e marcas), 1.º vol., Editora Campus, Rio de Janeiro), «ao deus-dará» terá tido origem no Brasil, no século XVII, no Recife mais propriamente, ainda sob o domínio da coroa portuguesa:
«Vivia [aí] um comerciante chamado Manuel Álvares, que ajudava os soldados que a Fazenda Real deixava abastecer. Quando ele não dispunha das mercadorias necessárias, dizia sempre "Deus dará!". De tanto repetir a frase, ficou conhecido como Manuel Álvares Deus Dará. E os soldados, quando precisavam de recorrer a ele, diziam: "Vamos ao Deus Dará." O "sobrenome" acabou até passando para os descendentes do comerciante: um dos filhos, provedor-mor da Fazenda, Simão Álvares Deus Dará.»

 

1 Com hífen, como parece ser o correcto, ou sem hífen é o registo indiferenciado nas obras consultadas.
2 Cit. de Cândido de Figueiredo, Novo Dicionário de Língua Portuguesa (1922) + O que não se deve dizer (1953).

«O Futebol Clube do Porto venceu 3-0 ao Nacional» – ouviu-se há dias na SIC Notícias, num erro de regência que parece ter virado moda um pouco por todas as televisões e rádios portuguesas, quando se dão os resultados da bola indígena e não só.
     «O Futebol Clube do Porto venceu o Nacional por 3 a 0» é como deve ser dito e escrito. O verbo vencer não se constrói aqui com a pr...