José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
62K

Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Podiam-me dizer o que possa significar a palavra «charrar»?

O contexto era um documentário sobre a guerra em Moçambique, e estavam a falar de unidades militares que estavam isoladas no mato e se drogavam, bebiam e «charravam».

Muito obrigado pela resposta.

Resposta:

Charrar é o verbo formado da palavra charro, termo da gíria portuguesa equivalente a ganza (que é o cigarro feito de droga, haxixe ou liamba). Não confundir com o vocábulo derivado do castelhano "charro", com o significado de pouco digno; baixo, desprezível, indigno, banal.

Em português, e com a mesma origem, charro é também o nome de um peixe, espécie de carapau que abunda no Sul de Portugal.

 

Cf. Três pequenas notas sobre charro, insumo e sótão

Co Adriaanse, o treinador holandês do Futebol Clube do Porto, surpreendeu tudo e todos neste domingo p. p. – a começar pelos jornalistas (portugueses) de quem ele se queixava de lhe deturparem frequentemente as declarações proferidas até aqui em inglês, antes e a seguir aos jogos –, expressando-se num português impecável tanto na ...

Será assim tão difícil entender que o vocábulo natal – seja na acepção de substantivo (o Natal) ou de adjectivo (terra natal) – flexiona-se sempre em número ( os Natais, terras natais)? Não obstante o óbvio e o que aqui (há anos!...) se regista, lá voltámos a ouvir nas televisões portuguesas o abstruso Pais “Natal”. A época bem convida à tolerância, mas francamente!...

Erros primários de concordância (e logo na primeira página): «Os cavalos Przewalski, a única espécie equina actual que reúne características primitivas, pode voltar ao Côa.» Ou: «Para o catedrático, boa parte destes problemas têm origem na sobreposição de situações de exclusão social, de segregação residencial e de fenómenos de rejeição de origem nacionalista e/ou racista (...)». Ou, ainda, gralhas impensáveis (na última página, em corpo de letra avantajado): «Acha que os pifese...

Pergunta:

Cabora Bassa? Cahora Bassa? A ortografia "Cahora" corresponde à pronúncia local?

Resposta:

Segundo o jornalista e escritor moçambicano Luís Carlos Patraquim, a quem agradecemos esta resposta, a grafia actual Cahora-Bassa corresponde efectivamente à pronúncia da língua local.

Trata-se da língua nhúngue1, falada também na cidade de Tete. Luís Carlos Patraquim lembra ainda o seguinte:

«Há, no entanto, registo de grafias anteriores, onde se mantém como invariante a opção pelo “h” em vez do “b”, utilizado mais tarde na designação oficial da barragem pelo regime colonial português.

«O Dicionário Corográfico da Província de Moçambique (ed. Ministério das Colónias, Comissão de Cartografia, 3.º fascículo, Zambézia – Distrito de Quelimane e Distrito de Tete, impressão da Imprensa da Universidade de Coimbra, 1926) regista o topónimo do seguinte modo:

«“Kahoura-Bassa – É o nome dado ao troço do Zambeze, que vai desde a longitude 32 graus e 28 minutos até à longitude 32 graus e 52 minutos E. G. (aproximadamente), onde as cachoeiras em que o rio se despenha tornam impossível a navegação. Kahoura-Bassa significa, na língua do país, ‘Acaba o trabalho’.”»

 

1povo húngue habita a actual província de