José Saramago - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Saramago
José Saramago
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José Saramago (Golegã, 1922 – Lanzarote, 2010), escritor português, o primeiro a ser distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, em 1998, foi galardoado com o Prémio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa, em 1991, o Prémio Camões, em 1995 ou doutorado «Honoris causa» pela Universidade de Nottingham, de Coimbra e de Charles de Gaulle – Lille, entre outros. Foi comendador da Ordem Militar de Sant'Iago de Espada desde 1985 e cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas desde 2001. Da sua obra, destacam-se: Levantado do Chão (1980), Memorial do Convento (1982), A Jangada de Pedra (1986) e Ensaio sobre a Cegueira (1996).

Cf. Comemorações do centenário do Nobel português da Literatura

 
Textos publicados pelo autor
Palavras para uma cidade

Num tom leve, em jeito de história, José Saramago evoca as palavras primeiras que deram nome a Lisboa, conduzindo-nos ao passado longínquo anterior à chegada dos Romanos até ao topónimo por que é reconhecida nos nossos dias. 

 

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e me amordaça.
Calado estou, calado estarei,

Pois que a língua que falo é doutra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,

Vasa de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem...
Uma língua que não se defende, morre

Texto escrito especialmente para o Ciberdúvidas pelo Prémio Nobel da Literatura José Saramago (1922-2010), depois da sua interrupção, em 2002,  na sequência do contributos do angolano Pepetela, do cabo-verdiano Germano Almeida e  do moçambicano Mia Couto .

As palavras

«A palavra não responde nem pergunta: amassa. A palavra é a erva fresca e verde que cobre os dentes do pântano. A palavra é poeira nos olhos e olhos furados. A palavra não mostra. A palavra disfarça.» José Saramago publicou esta crónica dos seus tempos de jornalista no vespertino A Capital, em livro lançado, em 1971, sob a chancela da Editorial Arcádia.