Textos publicados pelo autor
As ondas
Até que a escrita tremae então do fundo da memória um corpo e o marum cheiro de alfazema e de salgemaum acento circunflexo um til um tremaum nome que noutro nome se diziaum erro no ditado umas letras redondasuma rosa por dentro da caligrafiaa praia um rosto as ondas. Foz do Arelho, agosto de 2003...
Uma língua e diferentes culturas
«Língua de viagem e de mestiçagem», «Rio de muitos rios. E talvez pátria de várias pátrias», «O português de múltiplas tiranias/e o português das várias resistências.», «A língua é a mesma. Mas não é a mesma./É una. Mas é diversa» são versos de Manuel Alegre dum poema de elogio da língua portuguesa, poema este que foi tema da comunicação apresentada no Programa Cultural da Expolíngua, em Madrid, em março de 2003.
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«A música secreta da língua portuguesa»
[...] Mas a poesia é também a língua. A música secreta da língua. Na língua portuguesa essa música é um marulhar contínuo. «Há só mar no meu país» — escreveu o poeta Afonso Duarte. E um poeta angolano falou da língua portuguesa como língua de viagem e mestiçagem. E eu acrescento: rio de muitos rios. E também pátria de várias pátrias. A língua é una. Mas é diversa. Tanto mais ela quanto mais diferente. Tanto mais pura quanto mais impura....
Lusíada
Desterro desconcerto desatino vai-se a vida em palavras transmudada vai-se a vida e cantar é um destino página a página de pena e espada. Conjura desengano má fortuna oxalá só vocábulos não a escrita não se cinde a vida é una cantar é sem perdão é sem perdão. Quebrar a regra nenhum verso é livre outra é a norma e a frase nunca dita lá onde de dizer-se é que se vive. Cortando vão as naus a curta vida transforma-se o que escreve em sua escrita Lusíada é a palavra prometida....
Redondilha
Por baixo da superfícielisa de cada palavrapor dentro da fenda sísmicada gramática onde fulgurao magma (sintaxe mágica)de Babilónia a Sião.Entre o étimo e o sintagmano avesso desse centroonde há uma estrela caídapara dentro do ocultorelação irreveladaentre o corpo e a palavra.Onde o invisível tremorda terra percorre o sanguee então de súbito a flautaonde só Camões é quemsobre esses rios que vão entre ninguém e ninguém. ...