Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2. Com pós-graduação em Edição de Texto, trabalha na área da revisão de texto. Exerce funções como leitora no ISCTE.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

A interjeição «poça!» pode-se dizer no plural – "poças!"?

Resposta:

A interjeição poça, «exclamação que exprime espanto, surpresa, desapontamento ou contrariedade (Dicionário da Porto Editora), está atestada como palavra invariável, o que levaria a supor a que «poças!» esteja incorreto. No entanto, é comum ouvir-se a expressão no plural – «poças!» –, talvez por analogia com uma outra interjeição: «bolas!». Assim, apesar de não estar ainda dicionarizada, a interjeição no plural, usada principalmente em contexto informal, pode-se assumir como aceitável. 

Pergunta:

Gostaria de saber se a palavra determinante, enquanto substantivo, é masculina ou feminina. Ou seja, está correto dizer «as determinantes da transparência municipal são...»?

Resposta:

O substantivo determinante tem os dois géneros, masculino e feminino. Se o substantivo tiver a aceção de «aquilo que provoca ou determina algo, causa, motivo» (Dicionário da Porto Editora), como no exemplo apresentado, é, efetivamente, feminino. Por outro lado, se nos estivermos a referir à «palavra que precede e modifica um nome, delimitando a sua referência e indicando o seu género e número» (idem) (o/os, a/as, um/uns, uma/umas) estamos perante o substantivo de género masculino. 

Note-se que determinante pode ainda ser um adjetivo de dois géneros: «que determina, determinador; que decide, decisivo» (idem)

Pergunta:

Existe forma plural de in situ? Está correto dizer “a prática in situ”? E dizer “as prática in situs”?

Resposta:

A expressão latina in situ significa «no próprio local; (anatomia geral) que está em seu lugar natural ou normal (diz-se de estrutura ou órgão); (oncologia) que permanece confinado ao local de origem, sem invadir os tecidos vizinhos (diz-se de tumor)»  (Dicionário Houaiss). 

Esta locução adverbial, que pode também parecer como modificador de nome ou predicativo do sujeito, não se pluraliza. Veja-se os grupos preposicionais que surgem como modificadores de nome: «trabalho em curso» e «trabalhos em curso». No caso, «em curso» – grupo preposicional que surge como modificador – não se pluraliza, tal como in situ (ou in loco, expressão que pode ter a mesma aceção que in situ). 

E essa pontuação?
Como a falta de um simples ponto faz toda a diferença

Como uma defeituosa pontuação pode deturpar o que se pretende dizer.

Pergunta:

Quem tricota/tricoteia é um/uma "tricotador"/"tricotadora", "tricoteiro"/"tricoteira" ou "tricotadeiro"/"tricotadeira"?

Obrigado.

Resposta:

A pessoa que se dedica à arte do tricô pode ser designada, em português europeu, como tricoteiro/tricoteira e tricotadeiro/tricotadeira. No português do Brasil, os dicionários só atestam a forma tricoteiro/tricoteira1

De ressaltar que tricotadeira é, além de adjetivo, uma «máquina composta de uma fila de agulhas e de um carro que executa mecanicamente tricô» (Dicionário Priberam). Também o termo tricoteiro, no português do Brasil, pode ter outra aceção: «alcoviteiro, mexeriqueiro, intrigante» (Dicionário Online de PortuguêsDicio).

1 N. E. – No entanto, detetam-se ocorrências da forma tricotadeira em páginas brasileiras da Internet, a denotar quem executa trabalhos de tricô: «Ao longo dos últimos quatro anos, o fotógrafo Joseph Ford colaborou com a amiga e tricotadeira Nina Dodd » ("Suéteres personalizados feitos à mão misturam modelos com ambientes urbanos", MDig, 13/01/2018). Também aí se atesta o uso de tricotadeira na aceção de «coscuvilheira»:  «A velha tricotadeira, depois de um breve descanso cerebral, está de volta a coluna – com as mais novas novidades do mundo político de Ariquemes e Rondônia...