Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2. Com pós-graduação em Edição de Texto, trabalha na área da revisão de texto. Exerce funções como leitora no ISCTE.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

A frase «Que Deus lhes acuda» está correta? Não deveria ser «Que Deus os acuda», sendo os referente aos homens (por exemplo)? O pronome lhe não carece de uma identificação do que está a ser acudido? Por exemplo, «Que Deus lhes acuda a alma»?

Obrigado!

Resposta:

O verbo acudir é, na oração em apreço, um verbo transitivo indireto, ou seja, tem complemento indireto. No caso, não sabendo exatamente de quem se trata, sabemos que existe um -lhes, que é o pronome pessoal do complemento indireto. Veja-se este exemplo: «Que Deus acuda aos meus pais» (acudir, no caso,  tem sentido de «socorrer»). Na oração, «aos pais» são o complemento indireto, por isso pode ser substituído por lhes: «Que Deus lhes acuda». 

Se, como o consulente afirma, a oração fosse «Que Deus os acuda», então estaríamos na presença de acudir como verbo transitivo direto, ou seja, um verbo acompanhado de complemento direto. Neste caso, o complemento direto é o pronome os que substitui, por exemplo, «os homens»: «Que Deus acuda os homens» → «Que Deus os acuda.» Esta construção mantém o mesmo significado da acima descrita.

Pergunta:

«Ele vendeu coisas suas.» Nesta frase qual é a função sintática de "suas"? Modificador?

Resposta:

Sobre a ocorrência de suas em «Ele vendeu coisas suas», trata-se de um determinante possessivo em posição pós-nominal. Em Portugal, no âmbito da terminologia vigente no ensino não superior (Dicionário Terminológico), não se lhe atribui função sintática específica, pelo que suas não é um modificador. 

Pergunta:

Qual o radical de enfeitiçar?

Resposta:

Por radical entendemos a «parte invariável da palavra, que não pode ser dividida em constituintes menores e que contém o sentido básico da palavra» (Infopédia). No verbo enfeitiçar o radical corresponde a feitiç-. Quanto a en- e a -ar correspondem ao prefixo e ao sufixo, respetivamente. Verificamos, assim, que estamos perante um substantivo derivado parassinteticamente, isto é, substantivo formado por dois afixos. 

Pergunta:

«Nela se garantia que cerca de duzentos elementos inimigos e respectivas famílias haviam atravessado a fronteira com o Zaire.»

O verbo haver foi utilizado corretamente nesta frase?

Obrigada.

Resposta:

A oração «que cerca de duzentos elementos inimigos e respectivas famílias haviam atravessado a fronteira com o Zaire» está correta. 

O verbo haver pode empregar-se em todas as pessoas «quando é auxiliar (com sentido equivalente a ter) do verbo pessoal, quer junto a particípio, quer junto a infinitivo antecedido da preposição de» (Cunha, Celso, Cintra, Lindley, 2005. Nova gramática do português contemporâneo. pág. 532). Neste caso, estamos perante um pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo, em que o verbo auxiliar temporal haver equivale ao verbo ter. Veja-se a conjugação:

Eu havia atravessado

Tu havias atravessado

Ele, ela/ você havia atravessado

Nós havíamos atravessado

Vós havíeis atravessado

Eles, elas/ vocês haviam atravessado 

Afinal, falta o quê?
Uma mnemónica para perceber a razão do verbo faltar na terceira pessoa do singular

Porque é que é falta, e não faltam?