Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Fernando Pestana Professor Rio de Janeiro , Brasil 873

Algumas ocorrências que encontrei de pronomes oblíquos átonos arcaicos:

«Que estais no céu, santificado... Não no disse eu, menina? Seja o vosso nome…» (Almeida Garrett)

«Ele ou é trova, ou latim muito enrevezado, que eu não no entendo.» (Almeida Garrett)

«Via estar todo o Céu determinado / De fazer de Lisboa nova Roma; / Não no pode estorvar, que destinado / Está doutro Poder que tudo doma.» (Camões)

«O favor com que mais se acende o engenho / Não no dá a pátria, não, que está metida…» (Camões)

«Ora sabei, padre Fr. João, que eu bem no supunha, bem no esperava; mas parecia-me impossível, sempre me parecia impossível que viesse a acontecer.» (Eça de Queirós)

«A culpa de se malograrem estes sublimes intentos quem na tem é a sociedade…» (Camilo Castelo Branco)

«Parentes, amigos, nem visitas nenhumas parecia não nas ter.» (Almeida Garrett)

Há alguma explicação para o uso da consoante n antes dos oblíquos átonos?

Muito obrigado!

Heiko Obermeit Bacteriologista Frankfurt, Alemanha 1K

Já li a pergunta "A concordância do verbo doer" e tenho uma pergunta relacionada: tem a palavra dor de ser usada em concordância com o número da parte do corpo que está a doer?

«Dores na costas», mas «dor de cabeça»?

Na minha língua materna seria sempre o plural, porque a região que dói não é bem delineada e praticamente inumerável.

Bárbara Santos Tradutora Porto, Portugal 992

Surgiu-me uma dúvida sobre a necessidade ou, até, obrigatoriedade de repetir o símbolo de graus Celsius numa sequência de valores, como na seguinte frase:

«A uma temperatura ambiente de +10 °C a 35 °C, a temperatura interior do aparelho deve situar-se entre +2 °C e +8 °C.»

Nas minhas pesquisas, encontrei a supressão da medida apenas em textos jornalísticos que eliminavam, porém, também a referência a «Celsius», como neste exemplo:

«Outono começa hoje com temperaturas entre 20 e 27 graus e chuva no Minho» (Diário de Notícias, 23/09/2019).

Daí a dúvida que gostava de ver esclarecida: numa frase semelhante à primeira que cito, deve escrever-se «temperatura ambiente de +10 °C a 35 °C» ou também é possível escrever «temperatura ambiente de +10 a 35 °C»?

Muito obrigada pelo vosso trabalho incansável, pelo auxílio precioso que prestam a toda a comunidade de falantes da língua portuguesa.

 

O consulente segue a norma ortográfica de 45.

Álvaro Faria Ator Lisboa, Portugal 1K

Num índice de títulos, uma obra que comece por um número (por exemplo, «2001: Odisseia no Espaço») deve vir antes ou depois das que começam por letras? Obrigado.

Daniel Camargo Professor Limeira, Brasil 803

Na expressão «rumo a Canaã» (em referência à Canaã bíblica), ocorre ou não crase?

Para mim, não há, porque «quem vai a Canaã e volta de Canaã – acento para quê?», mas, em diversos textos acadêmicos e jornalísticos confiáveis, vi o contrário, o que abalou minha convicção.

Grato.

Alessia Khayrulina Estudante Lisboa, Portugal 2K

Gostaria de saber porque dizemos «conta à ordem» (com artigo definido feminino e, consequentemente, com o acento grave), mas «conta a prazo» (sem artigo nenhum e apenas a preposição "a")?

Obrigada!

Pedro Rodrigues Gestor de Marketing Oeiras, Portugal 9K

Agora que a Holanda se chama Países Baixos, como devemos denominar os seus habitantes?

António Carvalho Professor Coimbra, Portugal 6K

Não estará errada a expressão «tão negro como o...»? O correcto não será «tão negro quanto o...»?

Obrigado.

 

[N.E. – O consulente grafa correcto, conforme a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. A forma atual é correto.]

Maria Jacinto Professora Almada, Portugal 6K

A palavra leite é uma palavra variável ou invariável? Apesar de pertencer à classe dos nomes, existe "leites"??

Antonio Serdoura Reformado Porto, Portugal 2K

O “caso” em questão data do ano passado, mas parece-me ter grande importância no actual contexto de perversão da língua portuguesa: a escrita com o Acordo Ortográfico de 1990 e a ortoépia com o “lisboetismo” (permitam-me o barbarismo).

Um consultante solicitou ao Ciberdúvidas qual a leitura correcta do ditongo /ei/. A resposta de um tal Carlos Rocha (a 14/12/18) é de antologia! Diz o senhor Rocha :

“ … feira, maneira e deixei, soam () como "fâirâ", "mânâirâ" e "dâixâi"… !

O senhor Rocha deve considerar que Portugal é o Terreiro do Paço… A pronúncia a que se refere não corresponde à realidade da maior parte das regiões do país. É, sem dúvida, a mais propagada pelos principais meios de comunicação nacionais – rádios e televisões – cujas sedes se situam invariavelmente em Lisboa. O ditongo /ei/, em galaico-português, pronuncia-se como /ei/ : Oliveira (não Olivâirâ"), peixeira (não pâixâirâ")… Talvez o senhor Rocha considere que deve pronunciar-se frio como “friu” e rio como “riu”.

A ortoépia das diversas regiões do país merecem respeito, mas a origem da língua portuguesa é nortenha, e por mais capital que seja Lisboa, o sotaque que tanto divulgam não é uma regra para todos. Recorde o senhor Rocha (e também a Ciberdúvidas que o publica), que Portugal não se limita – por enquanto – à área da Grande Lisboa.