Aprendi a pronunciar estas palavras com a acentuação no -i final, mas parece que há uma tendência para se ouvir "Góbi", "Báli", porventura sob influência da pronúncia inglesa. O facto é que se diz javali, comi, entre outros vocábulos agudos terminados em -i. Também me espanta a pronúncia actual de "biquíni" (que já aparece escrito desta maneira), pois quase que jurava que há dez, vinte anos toda a gente dizia e escrevia biquini, com acentuação na última sílaba.
Sobre o Acordo Ortográfico, e no seguimento do abaixo-assinado que actualmente circula na Internet, gostaria de saber se já existe algum esclarecimento mais exacto sobre a utilização do h no início das palavras. Isto a propósito do já mais-que-conhecido caso húmido/úmido, para além de alguns exemplos que são apresentados nesta petição, e os quais eu acho que não serão correctos: hoje/"oje", hilariante/"ilariante".
Confesso que hesito sempre no uso do se não e do senão. Ainda agora, lendo uma notícia no semanário Sol (de 5 de Janeiro 2008), tropeço na seguinte frase:
«O socialismo criou-se como alternativa, se não, não tem razão de ser.»
Neste caso não devia ser senão?
Muito obrigado.
Em referência ao aparelho urinário, devo dizer "tracto", ou "trato" urinário? Qual a forma mais correcta?
Obrigada.
Conforme recente resposta desse incontornável sítio, uma localidade portuguesa tem o seu nome ortografado atualmente como Fão. Creio que desse topônimo surgiu também um sobrenome português, o qual, no passado, se escrevia "Fam", mas hoje deve ser Fão, a exemplo da atual forma do geônimo que lhe deu origem. Certo?
O outro apelido, "Gram", também lusitano, deve ser grafado hoje de modo correto Grão. Confirmais?
Aproveitando o ensejo, gostaria de acrescentar que no passado havia palavras comuns e também prenomes e sobrenomes terminados em -am, cujo valor fonético era /ãu/. São dois bons exemplos, entre inúmeros outros, "Cristovam" e "Estevam", hoje Cristóvão e Estêvão.
Na nova ortografia do século XX, todavia, o -am final, com o referido valor, desapareceu em todos os casos, menos em certas formas verbais paroxítonas da terceira pessoa do plural de certos tempos verbais, tais como levam, falam, trabalhavam, façam, etc. Sendo paroxítonas e terminando pelos fonemas /ãu/, estes são representados por -am, na escrita. Sendo oxítonas terminadas em /ãu/, estes são escritos com -ão mesmo: levarão, ouvirão, darão, etc.
Pelo fato, que me parece certo, de -am, em final absoluto, só ocorrer hodiernamente em formas verbais graves, sempre com o valor de /ãu/, causa-me dúvidas o valor de –am e o acerto do seu uso em prenomes hebraicos, creio aportuguesados, de personagens bíblicas nas traduções das Sagradas Escrituras para o português feitas no Brasil pelo menos. Nestas versões, ocorrem formas como "Cam", "Aram", "Adoniram", "Mesolam", "Naamam", "Anam", "Aduram", etc., etc., etc. Se nestes casos o valor fonético de –am é /ã/, a melhor grafia não deveria ser –ã? Não seria melhor escrevê-los "Cã", "Arã", "Adonirã", "Mesolã", "Naamã", "Anã", "Adurã"? Se for /ãu/, não seria melhor grafá-los "Cão", "Arão", "Adonirão", "Mesolão", "Naamão", "Anão", "Adurão"?
Espero os vossos seguríssimos esclarecimentos. Conto mais uma vez convosco, com a vossa luz sem fim, meus diletíssimos amigos.
Muito obrigado.
Sabe-se que aqui no Brasil existe o vezo de pronunciar o l com som de u, quando em fim de palavra.
Quero saber se aí em Portugal também existe o mesmo erro. Existe alguma outra língua em que tal anomalia se verifique? Qual a origem dessa pronúncia viciosa?
Muito grato.
Na qualidade de estudante da língua japonesa, permitam-me ajudar a esclarecer o consulente da pergunta 22227, independentemente das grafias dicionarizadas/oficializadas em Portugal.
Em kanji (logogramas japoneses), o nome da arte marcial em questão escreve-se '柔術' (lit. «arte da suavidade»), que se desdobra no hiragana (silabário japonês) 'じゅうじゅつ'. Aplicando as regras do rōmaji (romanização do japonês, i.e., escrita deste idioma com o alfabeto latino), sabe-se que 'じゅ' = 'ju', 'う' = 'u', e 'つ' = 'tsu'. Substituindo as letras japonesas pelas latinas obtém-se 'juujutsu', porém empregam-se antes as formas 'jūjutsu' — indicando o mácron uma vogal longa — ou simplistamente 'jujutsu' dada a invulgaridade daquele diacrítico no português.
O aportuguesado 'jiu' surge do facto de 'jyu' ser também aceite como romanização de 'じゅ', uma vez que 'じ' = 'ji' e 'ゆ' = 'yu', cuja versão reduzida ('ゅ') se traduz na aglutinação fonética à letra precedente bem como numa quase supressão do 'i' e do 'y' pronunciados. 'Jiu' é assim infiel à romanização, pois na realidade representa o hiragana 'じう', alheio a 'じゅうじゅつ'. Além disto, '柔' encontra-se igualmente presente no kanji de 'jūdō' ('じゅうどう'), '柔道' (lit. «caminho da suavidade»), pelo que é tão legítimo escrever 'jiujutsu' como 'jiudo', o segundo imediatamente percepcionado como um disparate. O mesmo se passa relativamente ao hífen em 'ju-jutsu' ou ao espaço em 'ju jutsu': ninguém escreve 'ju-do' nem 'ju do'.
Por último, e neste contexto, 'jitsu' revela-se apenas um erro, infelizmente massificado à escala global, que seguindo a lógica do incorrecto 'jiu' até deveria ser 'jiutsu'. 'Jitsu' é uma das leituras de vários outros kanji, com significados que nada têm que ver com o de 'jutsu' (lit. «arte»), ou seja, uma palavra diferente e consequentemente deslocada.
Resumindo, presumo que a leitura do japonês 'ju', a nós estranha, esteja na principal origem histórica das imprecisões/incorrecções mencionadas, e considero correcto em português apenas 'jujutsu'.
Aproveito para acrescentar que, tal como ao praticante de judo se chama 'judoca', aportuguesamento de 'jūdōka', também o praticante de jujutsu se denomina 'jūjutsuka' ('jujutsuca'?).
O verbo está incorrecto. É um erro morfossintáctico?
Gostaria de saber se a palavra pessoa já foi escrita de forma "pessôa" e, em caso afirmativo, quando tal mudança ortográfica foi introduzida.
Muito agradecido.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
Se pretende receber notificações de cada vez que um conteúdo do Ciberdúvidas é atualizado, subscreva as notificações clicando no botão Subscrever notificações