DÚVIDAS

O verbo expressar, os seus derivados e o nome célula
Em bioquímica, é muito comum a expressão em inglês «Y expressing cells» (sendo Y um exemplo), que em português é traduzida para «células que expressam Y». Esta tradução é muito limitada, pois transmite a ideia de uma condição transitória e não de uma característica das células. Por exemplo, no tempo passado teríamos de usar «as células que expressavam Y foram lavadas com…», dando ideia que era uma consequência do teste. Por outro lado, «células expressando …» também não soa natural. O mais fácil seria usar «células expressoras», estando o termo expressor em dicionários brasileiros. Porque não podemos adotar o mesmo termo? Obrigada.
O uso e o significado do galicismo plafom
Recebi uma mensagem do meu fornecedor de comunicações a dizer que esgotei o meu plafond de Internet. Não querendo entrar na discussão sobre a necessidade de usar um estrangeirismo para um conceito que tem vários equivalentes em português, a minha dúvida está em se um plafond se esgota. Sendo um plafond, literalmente, um tecto[1], a meu ver é um nível que se atinge, não um volume que se esgota. Estou certo? Muito obrigado.   [1 O consulente escreve tecto, seguindo a ortografia que esteve plenamente em vigor até 2009 em Portugal. No quadro do Acordo Ortográfico de 1990, escreve-se teto.]
O anglicismo semântico «o racional de alguma coisa»
Atualmente, utiliza-se frequentemente a palavra racional no mesmo sentido que se atribui em inglês a rationale. Ou seja, como um conjunto de razões ou argumentos que constituem a base lógica de uma ação ou convicção (exemplo: «não entendo o racional da tua decisão»). No entanto, esta utilização de racional como nome (e não como adjetivo) não parece ser legitimada por nenhum dicionário. Com efeito, racional, como nome, apenas se encontra dicionarizado no sentido de «ser pensante». Podemos admitir a utilização de racional daquela forma, ou trata-se de uma importação abusiva do Inglês?
A expressão «tudo o resto» (II)
Esta questão já foi aqui apresentada por outro consulente e a vossa resposta foi «Penso que deve dar preferência ao uso da expressão "tudo o resto"». Eu mantenho as minhas dúvidas, até porque quem respondeu não o fez com convicção ao usar o «penso que». Pois eu penso que deve ser «todo o resto», entendido como a totalidade da parte restante. Por exemplo, hoje, na capa de A Bola, lê-se que Fernando Santos fala «sobre a Liga das Nações e sobre tudo o resto». No meu ver, estes dois conceitos são contraditórios: se fala sobre tudo, não sobra resto para acrescentar ao que fala. Ela fala, com certeza sobre a Liga das Nações e sobre a totalidade da parte restante (de matérias de futebol, certamente) que vão além do assunto principal. Agradeço a vossa atenção.
O aportuguesamento, a partir do latim, de nomes escandinavos antigos
Cito abaixo os nomes latinos e seu respectivo nome nórdico, colocando em seguida o nome aportuguesado que sugiro [exemplo: Adelus (Adils/Eadgils) –  Adelo]. Como são nomes não atestados fora da Wikipédia,  preciso do crivo de um linguista para usá-los.   * Adelus (Adils/Eadgils) – sugerido Adelo. * Agnus/Agnius (Agne) – sugerido Agno ou Ágnio. * Alaricus e Ericus (Alrekr e Eiríkr) – sugerido Alarico e Érico. * Amundus (Amund) – sugerido Amundo. * Anundus (Anund) – sugerido Anundo. * Aunus (Aun) – sugerido Auno. * Biornus (Bjørn/Bjǫrn/Björn) – sugerido Biorno. Há uso no espanhol e no italiano e há residual uso em português. * Dagerus/Dagus Sapiens (Dagr Spaka) – sugerido Dagero/Dago, o Sábio. * Dagnerus (Dyggve) – sugerido Dignero. * Domalder (Domalde/Dómalda/Domalde/Dómaldi) – sugerido Domaldro. * Elfus e Inguinus (Alf e Yngve/Alfr e Yngva) – sugerido Elfo e Inguíno. * Fliolmus/Fiolni (Fiǫlnir/Fjǫlnir/Fjölner) – sugerido Fliolmo. * Gudrodus (Guðrøðr/Gudrød) – sugerido Gudrodo. * Hacus (Hake) – sugerido Haco. * Haldanus (Halfdan) – sugerido Haldano. * Hugleicus (Hugleik) – sugerido Hugleico. * Iaroslaus (Jaroslav) – Jaroslau. * Inglingus (Yngling) – sugerido Inglingo(s) (outro nome familiar), presente em ao menos um dicionário lusófono e obras hispânicas. * Ingoldus (Ingjald) – sugerido Ingoldo. * Inguar (Ingvar) – sugerido Inguar, com a possibilidade de também citar Igor, forma como esse nome nórdico antigo foi traduzido para o russo e como chegou ao português depois. * Iorundus (Jörund/Jørund/Jorund/Eorund/Jörundr) – sugerido Jorundo. * Iziaslaus (Iziaslav) – sugerido Iziaslau * Mistislaus (Mistislav) – sugerido Mistislau * Niordus (Njord) – sugerido Niordo. * Olegus (Oleg) - Olego ou Olegue, forma que usei por aparecer residualmente em algumas obras lusófonas * Ostenus/Augustinus (Östen/Eysteinn) – sugerido Osteno/Agostinho; o primeiro é uma latinização das fontes nórdicas, enquanto o segundo foi dado pelas fontes latinas mediterrânicas ao rei sueco que participou nas cruzadas. * Ottarus (Ottar) – sugerido Otaro. * Ragualdus (Ragnvald) – sugerido Ragualdo. * Randverus (Randver) – sugerido Randúero ou Randuero. * Rostislaus (Rostislav) – Rostislau * Saxo Grammaticus – sugerido Saxão Gramático.É referido em latim em todas as fontes nórdicas e na literatura moderna. Há algumas fontes em português para Saxão Gramático. * Scyldingus (Scylding/Skjöldung) – sugerido Escildingo(s) (é um nome familiar, não necessariamente um sobrenome). * Scyldus/Scildus/Schioldus/Scioldus (Scyld/Skjöld) – sugerido Escildo, Esquioldo e Escildo. * Sigurdus (Sigurd) – sugerido Sigurdo. * Solvus/Salvus (Sölve/Salve/Sølve) – sugerido Solvo/Salvo. * Stenchillus (Stenkil) – sugerido Estenquilo. * Suercherus/Sverchervs/Swegthir (Sveigðir/Sveigder/Svegder/Swegde/Swerker) – sugerido Suérquero. * Svetopolcus/Suetopolcus (Svyatopolk) – sugerido Esvetopolco ou Suetopolco * Svetoslaus/Suetoslaus (Sviatoslav) – sugerido Esvetoslau ou Suetoslau * Valander (Vanlanda/Vanlande/Vanlandi) – sugerido Valandro. * Vsevolodus (Vsevolod) – Usevolodo   A lista é muito mais extensa, mas acho que com esses vários exemplos é possível ter um panorama daquilo com que estamos lidando. [...] Os que defendem os nomes nórdicos consideram o uso do latim equivocado por não ser uma língua de uso corrente – e por quererem ser puristas em relação ao nomes. Nós, latinistas, visamos o uso do latim, não só por também ter uso nas poucas fontes existentes (algumas das obras nórdicas só sobreviveram na sua versão latina), mas por ser a forma mais eficaz de chegarmos a nomes seguros no português e por melhor atender às demandas dos leitores de nossa enciclopédia, em sua maioria leigos e alunos pré-universitários. Agradeço imensamente a atenção.
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