DÚVIDAS

A sintaxe de obedecer, novamente
Caros senhores, no versículo 27 do capítulo 8 do evangelho de Mateus (Novo Testamento) podemos ler: «Quem é este que os ventos e o mar lhe obedecem?» Tenho a impressão de que o tradutor cometeu um erro de regência, pois as gramáticas nos ensinam que o pronome relativo pertence ao verbo que vem depois. Como o verbo obedecer é transitivo indireto (exige complemento preposicionado), creio que a preposição deve anteceder ao pronome relativo. Assim, o tradutor bíblico deveria haver escrito: «Quem é este a que os ventos e o mar obedecem?» Estou certo, senhores? Se tenho apoio gramatical, como analisais a supramencionada tradução? Quero agradecer-vos a fineza de responder-me.
A regência do substantivo infidelidade
Gostaria de saber acerca de uma pequena diferença de uma palavra que a meu ver define a interpretação do texto. É muito importante isso para mim e para toda uma comunidade cristã. Na realidade, claro que não estou em posição, mas precisava com urgência de uma explicação de um perito na área. Veja a seguir o texto: «No Sermão do Monte, Jesus declarou plenamente que não podia haver dissolução do casamento, a não ser por infidelidade do voto conjugal. "Qualquer", disse Ele, "que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, faz que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério." Mat. 5:32.» O que aconteceria caso fosse substituída a palavra do para ao ao ser dito da exceção no texto? Haveria alguma diferença? Eu entendo que sim. Claro que não é posição de vocês fazerem teologia, mas para que seja entendido o meu ponto de vista é necessário explicar. O texto da Bíblia abaixo é a fonte pela qual o autor acima tira sua conclusão, sendo que entendo que: O texto mais esclarecedor quanto ao significado de fornicação (na Bíblia isto), que é a base para o autor dizer «infidelidade do voto conjugal» no seu texto, baseado isto numa interpretação do que seria a cláusula de exceção de Jesus, é este: «Mas agora procurais matar-me, a mim que vos falei a verdade que de Deus ouvi; isso Abraão não fez. Vós fazeis as obras de vosso pai. Replicaram-lhe eles: Nós não somos nascidos de fornicação; temos um Pai, que é Deus.» (João 8:40-41) Fica claro o significado da palavra no episódio de Maria, sendo que ela era acusada de fornicação; em Maria, quando noiva de José, não casada ainda, tinha sido gerada pelo Espírito Santo uma criança (Jesus), sendo que José pensou que ela tinha sido infiel a ele, e que ela deveria ser entregue para os judeus a apedrejarem. Para a Bíblia, fornicação é o mesmo que «relação sexual ilícita por parte de alguém não casado», apenas usado em casos de uma pessoa solteira; quando é por parte de um casado, é utilizado na Bíblia a palavra adultério. Desta forma entendemos que, ao contrário dos judeus que aceitavam o divórcio por diversos motivos, Jesus só aceitou o divórcio e novo casamento baseado em Deuteronômio 22, que era como um seguro que o noivo tinha contra uma possível traição por parte da moça, a qual anularia os votos naquelas circunstâncias (isto acontecia logo após a noite de núpcias). Porém, se o noivo já tinha aceitado a não-virgindade da moça, não havia motivo para a anulação, pois já era caso conhecido; apenas se fosse desconhecido pelo noivo seria feita a anulação. No Brasil havia esta lei quanto a anulação do casamento por causa da perda da virgindade até a década de 90, depois por causa de movimentos feministas foi retirado (não sei quanto a Portugal). Dada estas explicações, peço paciência e ajuda para conduzir o assunto ao final. Como se pode ver o problema é acerca de entender o texto reproduzido acima que é baseado na Bíblia, e necessariamente preciso conciliar a interpretação já definida na Bíblia, agora no texto. Assim, «infidelidade do voto conjugal» não seria infidelidade "ao" voto conjugal, o que entraria no adultério, um evento pós-casamento, que não entraria em acerto com a interpretação Bíblica já definida. Entendo que «infidelidade do voto conjugal» seria uma outra forma de dizer infidelidade da noiva ao fazer o voto conjugal, porque ela está sendo falsa ao seu noivo, enganando o noivo quanto a sua virgindade (temos que entender que no contexto bíblico é importante sim a virgindade e relacionamento sexual apenas quando casados), não tendo nada a ver com infidelidade depois de casado, sendo que a infidelidade teria sido antes de casar, e isto, segundo esta legislação, daria o direito de anulação de casamento. Espero que tenha sido claro na minha questão: há realmente como ilustrado por mim uma diferença entre "infidelidade do voto conjugal" e "infidelidade ao voto conjugal", levando em conta o máximo possível que puderem todo o contexto bíblico envolvido no texto? É possível conciliar a interpretação bíblica definida, com o texto em questão? Tenho certeza de que esta é uma ciberdúvida, e conto com a ajuda de vocês. Ficaria imensamente grato caso resolvessem de alguma forma a questão.
A sintaxe do verbo lembrar, uma vez mais
Mais uma vez gostava de congratular a equipa do Ciberdúvidas pelo vosso desempenho. Não me canso em enaltecer o quão agradecida estou pelo serviço que é prestado à língua portuguesa. Desta vez a minha dúvida reside na regência do verbo lembrar. Li um comentário que fizeram a respeito duma personalidade brasileira: «Lembramos e prestamos várias homenagens a este grande brasileiro.» A minha dúvida é a seguinte, esta frase está correcta no português europeu? Sei que o verbo lembrar requer o uso da preposição de. Mas pergunto-me se admite excepções e se a frase transcrita é uma delas. Agradeço desde já a atenção dada à minha questão. Infelizmente, não encontrei nenhuma resposta no vosso repertório de perguntas e respostas que me consiga esclarecer. Obrigada.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa