Gostaria de um pequeno esclarecimento em relação ao verbo ir.
Tenho visto alguns textos e poesias de onde é comum o uso do verbo ir + a preposição "a" + verbo no infinitivo, como na poesia de Rosa Clement abaixo.
Porém tenho entendido que o uso dessa construção gramatical está incorreta no português e portanto a minha dúvida.
Agradeço antecipadamente por vosso tempo e atenção.
Na ribeira
Na tarde ando sozinha
pelo caminho do rio, para ver meu amor,
e sigo sem nenhum pudor
ao prazer dos meus pés descalços.
Com perfume de açucenas,
deixo o sol beijar minha pele morena
e em fogo VOU A CANTAR
uma canção de fêmea...
E assim, perfumada e quente,
chego pela mesma ladeira,
e para ele na ribeira,
livro meu corpo de censuras.
E sem descansar do passeio,
com o vento frio a beijar meus seios,
fito seu rosto sentindo
nas mornas águas os céus descendo....
«Sua reportagem, que desvenda passagens nunca antes reveladas da Guerrilha do Araguaia, começa à página 28.»
Pergunto: está correto «à página»? Não seria «na página»? Porquê?
Obrigado.
Tenho uma dúvida: Podem-me indicar quais os verbos irregulares terminados em "ear"? Já pesquisei nas respostas anteriores mas sem sucesso.
É possível a utilização da expressão «começar de» (com a preposição de) como alternativa à expressão «começar a» (com a preposição a)?
Sou estudante de português como língua estrangeira na Colômbia. Gostaria de saber se existe alguma diferença na utilização dos verbos costumar e acostumar. É correto dizer: «Eu estou costumada» ou «Eu estou acostumada»; «Eu costumo» ou «Eu acostumo»?
Muito obrigada.
Aparece frequentemente a expressão "dirigiu-se para a Penha"; outras vezes encontra-se "dirigiu-se à Penha".
Qual a forma preferível?...
No decorrer do meu trabalho editorial surgiu esta questão, levantada por diversos professores e suscitando respostas contraditórias: Pode dizer-se «Uma dúzia são doze» como alternativa a «Uma dúzia é doze»?
Muito obrigada.
Antes de mais, parabéns à ilustre consultora dra. Edite Prada, que, com a humildade que só a grandeza e a competência permitem, se dignou responder – de forma, aliás, brilhante –, a uma pergunta recorrente no Ciberdúvidas e já aqui demasiadas vezes contornada sem honra nem mérito. O meu sincero aplauso, Senhora Doutora!
Mas...há um "mas"!
Com todo o respeito, parece-me haver um vício de pensamento que presidiu a todo o excelente trabalho de justificação do verbo ver: é a certeza, que não se ousou questionar, de que o verbo a empregar é este mesmo.
Se bem repararmos, houve que fazer uma "ginástica de quebrar os ossos da razão" para que o verbo ver tenha lugar na frase em questão. A tal ponto que, para o efeito, nem ter nem ver podem significar o que significam (como é afirmado) para que, juntos, dêem à frase o sentido que "queremos" que ela tenha.
Por outro lado, parece que, afinal, "nada ter a ver" não significará – de certeza, sem dúvidas – «estar relacionado», pelo menos a avaliar pelos exemplos apontados no final da resposta.
Se assim é, não nos obrigará a racionalidade cartesiana a admitir, nem que seja como mera hipótese, que há duas frases parecidas a significar coisas distintas? E que uma terá tomado o lugar das duas (no caso, terá prevalecido a que emprega o verbo ver)?
Será completamente descabido tentar encontrar justificação para o emprego do verbo haver em «isto nada tem que (ou a) haver com aquilo»? É que me parece dar bastante menos trabalho e ser bastante mais lógica e convincente do que a formulada para emprego de ver!
Correndo o risco de ser impertinente pela insistência, volto à minha argumentação inicial:
1 – Haver significa, em primeira linha, «ter».
2 – A frase «isto nada tem que ver com aquilo» é sempre redundante, já que se limita a reforçar a frase «isto nada tem com aquilo», que significa o mesmo. Nesta frase, o emprego do verbo ter não oferece dúvidas.
3 – Na "não frase" «isto nada tem "a ter" com aquilo», o verbo ter seria utilizado exactamente com o mesmo significado as duas vezes, mantendo-se o sentido da frase.
4 – Porque a frase seria foneticamente (e não só...) impraticável, o verbo ter deu lugar a haver, que também significa «ter», para além de «receber», assim se mantendo e mesmo consolidando o sentido da mesma.
5 – Seria indiferente emprego do que ou do a, já que o sentido da
frase se manteria em qualquer os casos.
6 – Nesta hipótese, ter e haver continuam a significar o que significam, sem necessidade de ter de os "perverter" para que a frase tenha o sentido que, de facto, tem – porque os verbos utilizados a esse mesmo sentido conduzem (ao contrário do que é, dignamente, admitido com o emprego de ver)!
Tentei demonstrar, esforçadamente como se constatará, que, a não existir uma ideia ou regra fixa e incontornável que "obrigue" à rejeição liminar do haver em proveito do ver, a "justificação" para o emprego daquele seria bem mais simples e facilmente aceitável do que a elaborada à volta do uso deste.
Desta forma se entenderia que o dicionário citado atribua a «nada ter que ver» significado completamente diferente de «estar relacionado», pela simples razão de que a frase que tal sentido terá é outra, ainda que outros também tenha: «nada ter que (ou a) haver».
Em face do desenvolvimento que o assunto já teve, não ouso "exigir" uma "resposta" do Ciberdúvidas. Aqui fica, apenas, o registo das minhas dúvidas que, apesar de tudo, se mantêm.
Obrigado à dra. Edite Prada.
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