Saúdo o regresso do nosso Ciberdúvidas. Ele faz falta a quem, diariamente, há anos, se lhe habituou à companhia.
1. Pequeno comentário à seguinte resposta vossa:
«a palavra queijo, apesar de não ter uma concretização lexical na segunda oração, acaba por estar presente de forma subentendida: «Eu comprei um queijo, e tu ainda me deste um [queijo].»
— Logo, aquele segundo um seria artigo indefinido, como o primeiro.
Não seguimos tal opinião. Os pronomes estão sempre em vez duma palavra que, ausente, poderia estar presente. Mas, porque o não estão, é que há pronomes.
Se fosse válido este princípio do Ciber, desapareceriam os pronomes possessivos, demonstrativos e muitos indefinidos. E eles fazem falta ao estudo da frase.
A análise categorial tem de ser capaz de atribuir categoria às palavras da frase — independentemente daquelas que lá poderiam estar.
2. Embora seja aceitável (?) a classificação daqueles um como determinantes artigos indefinidos, é minha opinião que se trata de dois quantificadores, sendo um adjectival e outro pronominal.
«Eu comprei um queijo, e tu ainda me deste um» [Fiquei com dois].
3. Porque tenho muito respeito pelo trabalho dos colegas, só discordo se propuser uma alternativa. É o que faço agora:
«Eu comprei um queijo...»
— um: quantificador adjectival determinativo (numeral cardinal)
«e tu ainda me deste um»
— um: quantificador pronominal (numeral cardinal).
Justificação:
Os quantificadores constituem uma categoria gramatical de cariz predominantemente semântico que, no entanto, lhes não cumula a função. Na realidade, eles desempenham uma função transversal a diversas categorias de palavras, e podem ser quantificadores adjectivais, pronominais e adverbiais.
Na análise categorial, é nossa opinião que deveremos sempre referir a classe própria: quantificador, seguida da classificação categorial complementar.
Foi o que fizemos na descrição proposta.
Eu teria muito gosto em discutir esta análise com o Autor da resposta — eu não sou dono da Verdade! — mas não é — não tem sido — esse o entendimento do Ciber, e só me resta aceitar.
Na frase «Eu comprei um queijo e tu ainda me deste um», o último «um» a que classe gramatical pertence? Ele tem a função de um pronome, mas não o pode ser.
Agradecida.
Agradecia explicação do uso da preposição de contraída com o artigo na primeira designação e o emprego da mesma preposição, na sua forma simples, sem o artigo na segunda.
Grato pela vossa atenção.
No seu Dicionário de Questões Vernáculas ("Um", p. 574), Napoleão M. de Almeida afirma que «constitui erro em português o abusivo emprego do indefinido "um", como o faz o francês, como o faz o inglês». Uma vez que o autor é brasileiro e o referido dicionário aborda questões que dizem respeito mais ao português do Brasil do que ao português europeu, gostaria de saber se é, de facto, incorrecto dizer/escrever frases como, por exemplo: «Hoje em dia as pessoas comportam-se de uma maneira egoísta». Ou se é preferível dizer: «Hoje em dia as pessoas comportam-se de maneira egoísta.»
Grata pela ajuda.
Estou a fazer a revisão de um artigo para uma revista científica e tenho uma dúvida em relação ao uso da contracção de + um, dum. Consultei o Ciberdúvidas e, apesar de ter confirmado a aceitação da contracção referida, parece-me que a mesma deve ser evitada em linguagem formal. Não encontrei nada que sustente esta minha opinião, por isso, pergunto: é aceitável esta contracção na escrita académica formal? Eis alguns exemplos retirados do artigo:
«(...) numa fase pré-universitária, e num contexto de capitalismo hedonista, vêem e utilizam o seu tempo livre como evasão, predominando uma dimensão de diversão, em detrimento duma mais relacionada com a procura de informação.»
«Possibilitadoras duma infinita acessibilidade, as tecnologias fazem com que os seus utilizadores se transformem através do seu uso.»
«O facto de a construção de sentidos se realizar a partir duma linguagem múltipla, desde sons a gráficos visuais, significa que o navegante do ciberespaço tem de contar com uma série de conhecimentos (...).»
Devido a motivos de tradução de material inglês para português, deparo-me com o problema da definição do género no nome da empresa para o qual trabalho: PokerStars.
Tal como me foi ensinado na universidade, as palavras estrangeiras, ainda não assimiladas pelo vocabulário português, são, por convenção, masculinas.
No entanto, eu e os meus colegas portugueses estamos num impasse no facto do género da palavra PokerStars. Pessoalmente, sigo a convenção do género masculino, mas os meus colegas seguem a ideia de que os nomes de empresas terão de ser femininos (a Microsoft, a TMN, etc.).
Gostaria que me tirassem esta dúvida que já me assombra há um tempo...
Substantivo próprio tem ou precisa de um determinante?
Gramaticalmente, qual é a forma mais correta de se dizer: «este livro pertence a Joaquim» ou «este livro pertence ao Joaquim»?
Gostaria de saber se se diz: «ter certeza» ou «ter a certeza» de algo. Ou se estão ambas correctas e, se assim for, qual a diferença.
Muito obrigada.
O uso do artigo com Flandres surpreendeu-me aqui: «A Modernidade começou na Itália e na Flandres no século XV devido ao desenvolvimento do comércio das indústrias artesanais. Tudo isto corresponde a um longo período.» É assim mesmo, «na Flandres»? Eu teria usado «em Flandres», mas só por instinto. O fato é que nunca precisei dizer isso, já que dizemos (pelo menos no Brasil) mais comumente «Bélgica», mas aí foi necessária a precisão que fizeram por conter eventos históricos relacionados a só aquela parte da Bélgica, que talvez então ainda nem pertence a dito país.
Muito obrigado pelo esclarecimento que me quiserem dar.
O sempre amigo do Ciberdúvidas,
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