DÚVIDAS

Infinitivo flexionado: função desambiguadora ou enfática
Sabendo de antemão que o uso do infinitivo é um terreno pantanoso que requer cuidado para trilhar, atrevo-me a concordar com a posição da consulente Inês Pantaleão, em 17/5/2022. Em primeiro lugar, não creio que a frase apresentada por ela seja o caso típico de orações com sujeitos diferentes, a exemplo de «O professor mudou o método de ensino para os alunos aprenderem melhor». A referida oração («os antibióticos perderam eficácia devido à capacidade que as bactérias têm de lhes resistirem...») é um pouco diferente, devendo-se verificar a necessidade de flexão do infinitivo no âmbito somente da oração subordinada («as bactérias têm a capacidade de resistir aos antibióticos»). Para que flexioná-lo, se o sujeito é o mesmo? É frase semelhante a estas: «Todos tinham receio de enfrentar o tirano», «Nós vivemos da esperança de ver um mundo mais justo», «Não cobiçavam a glória de ficar em posição de destaque». Outras de estrutura diferente, mas com sujeito único, também não exigem flexão do infinitivo: "Eles quiseram estar presentes à cerimônia", "Esperamos construir a casa em seis meses". Nesse caso, vale a máxima de "Por que dizer com muito aquilo que pode ser dito com pouco?".
Hífenes: «guarda-roupa-cápsula»
A ortografia portuguesa contempla a possibilidade de que se sucedam mais do que um prefixo hifenizado em palavras compostas sem elementos de ligação (p. ex. vice-diretor-executivo ou ex-vice-diretor-executivo). Não obstante (e por nunca me ter deparado com um caso desta natureza), ter-se-ia também de hifenizar a junção de uma unidade lexical autónoma (um nome) a uma palavra composta (sem elemento de ligação)? Por exemplo, temos coleção-cápsula (uma pequena coleção especial de vestuário dentro da coleção mais geral da loja) e, consequentemente, teríamos “guarda-roupa-cápsula” ou “guarda-roupa cápsula” (esta última, talvez, porque poderia tornar mais claro que cápsula modifica restritivamente a unidade completa guarda-roupa” e evitaria outras possibilidades de relações de modificação entre os seus elementos?!)? Agradeço, desde já, a vossa resposta!
Três termos da genética e da bioinformática
Gostaria de saber como traduzir para português os seguintes termos de genética/bioinformática[*]: – reads. Exemplo: «In next-generation sequencing, a read refers to the DNA sequence from one fragment (a small section of DNA)» (Genomics Education Programme). – contigs. Exemplo: «A contig (as related to genomic studies; derived from the word “contiguous”) is a set of DNA segments or sequences that overlap in a way that provides a contiguous representation of a genomic region» (ibidem); – assembly. Por exemplo: «In bioinformatics, sequence assembly refers to aligning and merging fragments from a longer DNA sequence in order to reconstruct the original sequence» (retirado de "Sequence assembly", Wikipedia). Desde já muito obrigado pela vossa ajuda.   [* N. E. – Traduções livres, pela mesma ordem: «Na sequnciação da geração seguinte, uma leitura refere-se à sequência de ADN proveniente de um fragmento (uma pequena porção de ADN)»; «Um contig (relacionado com estudos genómicos e formado da palavra contíguo) é um conjunto de segmentos ou sequências de ADN que se sobrepõem de tal maneira que permitem fazer uma representação contígua de uma região genómica»; «Em bioinformática, o termo «alinhamento de sequências refere-se ao alinhamento e à combinação de fragmentos a partir de uma sequência de ADN mais longa de modo a reconstruir a sequência original».]
O uso de «e tal»
Tenho visto algumas vezes escrito: «Ele tem vinte e tal, cento e tal, setenta e tal anos, a fé tem setenta e tal repartições, etc.» Às vezes: «tenho vinte e algumas mangas» A minha questão é: 1. Será que está certo dizer-se: «setenta e tal anos», ou «setenta e alguns anos»? 2. Qual é a designação de um número desconhecido entre 3 e 10 ou 3 e 9? Por exemplo tenho 70 e um acréscimo de canetas, porém, não sei se é 73, ou 77, ou 75, ou 79. Será que também diria por exemplo, «tenho setenta e tal»? Em árabe diz-se biḍʿ (todo o número compreendido entre 3 e 10). Obrigado.
A construção «igual eu»
No Brasil é muito comum dizer «igual eu» no sentido de «como eu» ou «como a mim». E também é muito comum o uso da figura de estilo elipse. Como exemplo, o emprego destes hábitos em uma frase seria: «O João fala errado igual eu falo.» → «O João fala errado igual eu.» Gostaria de saber se na variante do português de Portugal é incorreto este uso e, se sim, qual a forma correta de serem ditas frases como estas? – O João fala errado igual eu. (O João fala errado igual eu falo.)  – Ele pensa igual eu. (Ele pensa como eu.) Obrigado.
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