DÚVIDAS

«Sair à rua» e «sair para o cais»
Votos de bom trabalho para toda a equipa do Ciberdúvidas, que tanto nos ajudam! Tenho uma dúvida quanto ao verbo sair. Procurei se o mesmo se rege por alguma preposição, porém, não encontrei. Na frase: «Ao chegar a Campanhã, Carla pegou na maleta e saiu ao exterior /ao cais.» (referindo-se a uma passageira de um comboio). O uso desta contração a+o está correto? Ou deveria ter-se empregado a preposição para? «Ao chegar a Campanhã, Carla pegou na maleta e saiu para o exterior/ para o cais.» Para mim, que não sou portuguesa nativa, muitas normas gramaticais deste tão bonito idioma geram-me imensas dúvidas. Agradeço a vossa resposta.
«Em Angola», sem artigo definido
Tem havido constantes discussões entre angolanos e brasileiros nas redes sociais, aqueles corrigem estes, afirmando ser errado dizer-se «na Angola», sendo o certo, «em Angola». Face ao exposto, eis as minhas questões? 1. Qual é a forma correcta segundo as normas portuguesa e brasileira, respectivamente? 2. Caso seja incorrecto do ponto de vista gramatical, este desvio, por assim dizer, por ser extremamente comum entre os brasileiros, pode ser considerado correcto segundo à norma brasileira? O que se pode dizer do ponto de vista normativo e do ponto de vista descritivo? 3. O que se pode dizer do ponto de vista sociolinguístico? Obrigado.
Construção comparativa: «a mais do que»
Aproveito essa oportunidade para agradecer a toda a equipa do Ciberdúvidas o trabalho que têm desenvolvido incessantemente ao longo dos anos. A plataforma tornou-se um recurso mais que valioso para muitos seguidores da lusofonia e, sobretudo, permitam-me aqui uma nota, um meio de preservação e pesquisa de particularidades que destacam precisamente o português de Portugal, bastante e imerecidamente preterido hoje em dia em materiais didáticos estrangeiros e pela Internet fora. Ao assunto. 1. Apareceu-me uma frase: «[O sobrinho]… respondeu-me com o braço por cima dos meus ombros, cresceu quase meio metro a mais do que eu e tem gosto em sentir que nos protege (...)» (P., 18/08/24, por B.W.). Embora eu tenha visto tal uso diversas vezes em edições precolendas portuguesas (Público, etc.), ouvido estar em plena circulação no português do Brasil e tenha sido o fenómeno registado em: 1. Dicionário Priberam e 2. Infopedia – nos exemplos não verificados pelos editores e na descrição do verbete, sempre me deixa em dúvida a "convivência" das duas expressões, a meu ver, distintas: «qualquer coisa mais (do) que qualquer coisa» e «qualquer coisa a mais». Na maioria esmagadora dos resultados que obtive ao pesquisar, a preposição a surgia na formação «a mais do que qualquer coisa», enquanto a regência verbal («... corresponde a mais do que metade...») ou nominal («referência/algo referente a mais do que...»), e não como parte da locução comparativa única. Ou, se ocorria «a mais», era seguida de um ponto final: «tantas vezes a mais»; «uns anos a mais»; «ficou com moedas a mais», etc. O mesmo acontecia a «a menos». Se bem que isto não pareça apresentar uma agramaticalidade, se tanto, será que se precisa de a em «a mais do que» do exemplo exposto? Em tese, podia (ou devia?) ser algo como: «...cresceu mais alto (do) que eu, ficou com meio metro a mais [ponto final]»? Haverá cambiantes de acepção ou estilo tanto no contexto do português de Portugal como no âmbito brasileiro?  Obrigado.
Metáfora: «criar/ganhar cama»
Qual é o significado das expressões «criar cama» e «ganhar cama» usadas em Húmus de Raul Brandão, terceira edição: «As paixões dormem, o riso postiço criou cama, as mãos habituaram-se a fazer todos os dias os mesmos gestos. Só eu me afundo soterrado em cinza. Terei por força de me habituar à aquiescência e à regra? Crio cama e todos os dias sinto a usura da vida e os passos da morte mais fundo e mais perto. ... e finjo, e o sorriso acaba por ganhar cama, a boca por se habituar à mentira...» Agradecia a ajuda
Septologia e heptalogia
Os sete livros que compõem a obra-prima do norueguês Jon Fosse saíram em Portugal com o título Septologia, e não "Heptalogia", como seria a forma mais comum de se referir a uma coletânea de sete unidades. Pesquisei bastante e tudo a que cheguei em relação ao radical septo- aponta para acepções anatômicas ou biológicas, não numéricas. O que teria levado a prestigiosa editora que lançou o volume a optar por esse título? Agradeço a atenção da resposta.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa