DÚVIDAS

A conjunção quando: valor temporal e valor condicional

No fragmento «Só acredita em fumaça quando vê fogo», o termo quando indica condição para que a ação se realize, ou o tempo em que as ações ocorrem?

Por quê?

Resposta

O enunciado exprime uma relação simultaneamente temporal e condicional entre duas situações, mas essa acumulação de valores não se deve à conjunção quando.

Quando é a conjunção que introduz uma oração subordinada temporal e tem a mesma função que qualquer outra conjunção temporal, que é a adverbial de localização temporal, dado que fornece as coordenadas temporais que permitem situar no tempo a a{#c|}ção expressa na oração principal:

«O gato assustou-se quando o telhado caiu.»

«O telhado caiu mal entrámos na sala.»

«O telhado caiu enquanto fazíamos o jantar.»

O que estas frases têm em comum é reportarem eventos pretéritos.

No enunciado que apresenta para análise, ambas as situações estão expressas no presente. Ora, o presente é multifuncional e só em contextos específicos exprime as acções a decorrer no momento da elocução. Neste enunciado, o presente oferece uma leitura genérica, caracterizadora. Tanto assim é, que é possível acoplar-lhe um adverbial de frequência/habitualidade:

«Habitualmente/usualmente/regra geral/normalmente/de modo geral, acredita-se em fumaça quando se vê fogo» ou «Sempre que se vê fogo, acredita-se em fumaça».

No entanto, o valor temporal da conjunção mantém-se e pode ser parafraseável nestes termos:

Há (houve e haverá) um número infinito de vezes, num intervalo de tempo não delimitável, em que a transição de «não acreditar» para «acreditar» ocorre no momento X, sendo X = «quando vê fogo».

Então como é que aparece o valor condicional no enunciado? Por acção do advérbio : é ele que estabelece a relação de dependência/exclusividade entre «ver fogo» e «acreditar», o que induz na interpretação do primeiro evento como condição do segundo.

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