Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Campo linguístico: Semântica temporal
Cristina Castro Professora Matosinhos, Portugal 295

A frase «não sabia que tenho uma amendoeira no quintal» está correta? A coesão temporal não apresenta dúvidas?

Fui corrigida, porque a forma verbal tenho deveria estar no passado.

Obrigada

Luiz Hygino Cunha Lima Reformado Aveiro , Portugal 432

Cada vez mais ouço/leio a utilização do verbo haver, mais no Brasil, menos em Portugal, quando representando um período de tempo, flexionado a acompanhar o outro verbo duma frase.

Por exemplo: «O preso cumpria pena havia dois anos.»

Sempre soube que não se devia flexioná-lo e dizer: «O preso cumpria pena há dois anos.»

Agradeço que me seja esclarecida esta dúvida.

André Lopes Padeiro Riachos, Portugal 361

Deparo-me com a antiga expressão «em rama» utilizada no sector de transformação de produtos como «farinhas em rama (moagem de, por exemplo)», «algodão em rama», «açúcar...», entre outros. Significa algo em bruto, não processado, como por exemplo, a primeira farinha extraída logo após a primeira passagem na mó.

Muito comum nas antigas moagens, o termo caiu em desuso nas moagens modernas.

Seja como for, não encontro em lado nenhum uma explicação para a origem linguística da expressão «em rama». Apenas a ligação com a outra expressão, «pela rama», ou seja, superficialmente, mas desconfio que esta é que tenha derivado da outra.

Obrigado pela atenção.

Diana Gonçalves Professora Coimbra, Portugal 454

Estas duas frases são aceitáveis?

«Ontem, enquanto eu fiz o jantar, ele fez as sobremesas.»

«Ontem, enquanto eu fazia o jantar, ele fazia as sobremesas.»

Normalmente, enquanto está associado ao pretérito imperfeito quando se ensina português a estrangeiros, surgindo essa regra frequentemente em livros, para quando se trata de ações simultâneas no passado.

No entanto, a frase com o pretérito perfeito simples também me parece aceitável.

Muito obrigada pelo vosso trabalho.

Gabriel Lago Revisor de textos Cascavel, Brasil 459

Primeiramente agradeço o sempre excelente trabalho que vocês desempenham.

Tenho encontrado em Machado de Assis um tipo de construção que me é nova: o uso do pretérito perfeito composto do indicativo em lugar do pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo, especialmente em situações condicionais, hipotéticas. Trago abaixo alguns exemplos do mesmo escritor. A locução de tempo composto vai destacada em maiúsculas:

1) "Um dos oradores do dia 21 observou que se a Inconfidência TEM VENCIDO, os cargos iam para os outros conjurados, não para o alferes. Pois não é muito que, não tendo vencido, a história lhe dê a principal cadeira."

2) "Teve seus minutos de aborrecimento, é verdade; a princípio doeu-me que Ezequiel não fosse realmente meu filho, que me não completasse e continuasse. Se o rapaz TEM SAÍDO à mãe, eu acabava crendo tudo, tanto mais facilmente quando que ele parecia haver-me deixado na véspera evocava a meninice, cenas e palavras, a ida para o colégio..."

3) "De repente, cessando a reflexão, fitou em mim os olhos de ressaca, e perguntou-me se tinha medo. — Medo? — Sim, pergunto se você tem medo. — Medo de quê? — Medo de apanhar, de ser preso, de brigar, de andar, de trabalhar... Não entendi. Se ela me TEM DITO simplesmente: "Vamos embora!" pode ser que eu obedecesse ou não; em todo caso, entenderia."

Onde destaquei, parece dizer-se "tivesse vencido", "tivesse saído", "tivesse dito". Sei que muitos tempos e modos podem assumir o lugar de outros, como "Se eu fora (fosse) rico...", mas é a primeira vez que me deparo com tal possibilidade, e nunca a vi noutro autor.

Tem certa semelhança com o uso corrente do presente do indicativo a substituir o pretérito ou o futuro do subjuntivo: "Se erro a questão, reprovo". Vocês têm conhecimento dessa hipótese de substituição? É prevista em alguma gramática? Acha-se noutros escritores?

Alexandre Estradas Empregado de balcão Portugal 483

A minha questão diz respeito a esta frase encontrada na página 291, linhas 5 e 6, da tradução portuguesa da obra Dracul, de Dacre Stoker e J.D. Barker, publicada pela TopSeller: «Até há instantes, eu tremia furiosamente, mas conseguira, por fim, acalmar.»

Na frase transcrita, o uso do verbo no pretérito-mais-que-perfeito (conseguira) estará correcto?

Não deveria o verbo tremer ter sido conjugado no pretérito-mais-que-perfeito, e o verbo conseguir no pretérito perfeito, uma vez que aquela ação precede temporalmente esta última?

Obrigado, desde já, pela atenção.

Filomena Miguel Tradutora e Professora Português Língua não Materna Loulé, Portugal 606

Ensino o Português a Estrangeiros e muitos alunos estão a aprender o conjuntivo. Em todas as gramáticas para este fim, a conjunção se é seguida por um futuro do conjuntivo em situações como a seguinte: «Se não houver ajuda, é/será tudo mais difícil.»

No entanto, ouço repetidamente na televisão o uso do presente do indicativo em situações deste género. Ex: «Se não há coordenação, há de facto mais problemas.»

Estas duas frases estão corretas? Como interpretar isto?

Agradeço antecipadamente a vossa resposta à minha dúvida. Muito obrigada pelo vosso trabalho. Recorro frequentemente à vossa página para esclarecer as minhas dúvidas.

Patrícia Sanches Desempregada Faro, Porrtugal 991

Gostaria que me explicassem o uso dos demonstrativos nesse, neste e naquele em relação ao tempo. Seriam nesse e naquele referência ao passado e neste ao presente?

Nesse dia, eu estava doente.

Ela partiu a perna, naquele fim de semana.

Neste momento, eu não posso.

Ainda que a minha interpretação esteja correta, existe alguma diferença entre o nesse e naquele? Seria naquele para se referir a um passado mais longínquo? Essas mesmas interpretações de tempo servem para o desse, deste e daquele? Não consigo pensar em nenhuma frase que pudesse ter essa interpretação.

Caso esteja errada, poderiam dar-me alguns exemplos, por favor?

Agradeço a atenção dispensada.

Ronaldo Souza Professor Iaras, Brasil 489

A expressão «havendo ocasião» equivale a que outras expressões em português?

 

Obrigado.

Bernardo Monteiro Estudante Porto, Portugal 444

Li, num livro, que o futuro normalmente está ligado a uma suposição e não a uma certeza, estando associado, por conseguinte, a uma probabilidade. Porém, o futuro não pode ser utilizado para expressar certeza?

Consideremos o seguinte enunciado: (I) Ele irá conseguir. Neste caso, (I) expressa uma certeza ou uma suposição?

E, agora, consideremos um enunciado semelhante: (II) Ele vai conseguir. Em (II), expressa certeza ou suposição?

O que me responderam foi que o (I) expressa suposição e o (II) certeza, devido ao tempo utilizado. Porém, em (II), o presente não adquire valor de futuro?

Agradeço a vossa preciosa ajuda para decifrar os mistérios da nossa tão vetusta e opulenta língua.