Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as palavras iniciais.
Em português, aceita-se a forma geyser, pronunciada "gáizer", próxima da atribuída ao inglês americano, embora exista um aportuguesamento, gêiser, que soa "jêizer" (cf. Dicionário Houaiss e transcrição fonética das respetivas entradas no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).1 Parece muito pouco provável que geyser/gêiser provenha diretamente do islandês; o mais plausível é o termo ter chegado ao português por via do inglês, eventualmente pelo alemão, como sugere o Dicionário da Língua Portuguesa da Infopédia — e, já agora, porque não pelo francês? Quem sabe se foram estas três línguas ao mesmo tempo, por intermédio dos livros que chegavam a Portugal ou ao Brasil, que contribuíram para a adoção da palavra em traduções? Não obstante, o facto de a palavra estar atestada pela primeira vez em 1838 (cf. Dicionário Houaiss), numa época (o século XIX) em que o francês atuava como língua de divulgação científica para muitas outras, leva-me a não descartar a hipótese de uma transmissão francesa, pela razão que explico um pouco mais abaixo.2
Assim, relativamente à grafia e pronúncia da palavra em apreço, convém observar o seguinte:
1. Entre os vocabulários ortográficos atualmente disponíveis, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora acolhem o aportuguesamento gêiser e o estrangeirismo geyser. O Vocabulário Ortográfico do Português do ILTEC apenas consigna geyser como estrangeirismo, enquanto no Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa da Academia das Ciências só figura gêiser. Por outras palavras, o aportuguesamento que a norma prevê é gêiser, e não outras grafias; também se admite a grafia geyser, mas, como é hábito nestes casos, recomenda-se o uso de itálico ou de aspas.
Observe-se que, antes da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, já se registava a forma gêiser em alguns dicionários (p. ex., Dicionário Houaiss e dicionário da Academia das Ciências de Lisboa). José Pedro Machado, por seu lado, apresentava géiser quer no Grande Dicionário da Língua Portuguesa quer no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, mas esta variante gráfica e fónica não parece ter atualmente favor. É, portanto, estranho que o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (em linha) a assuma como característica do português europeu, em contraste com gêiser, que classifica de variante brasileira, uma vez que, como já apontei, em dicionários do português europeu também ocorre a forma gêiser, sem menção de se tratar de forma brasileira.
2. Não excluindo a possibilidade de a palavra ter sido pronunciada "guêiser", de algum modo conservando a consoante articulada em islandês, a verdade é que a criação do aportuguesamento gêiser terá tido em conta a leitura da forma geyser de acordo com as convenções próprias da ortografia portuguesa (um g seguido de e tem o mesmo valor do j de viaje). Outra hipótese é o vocábulo ter sido transmitido com conhecimento da sua pronúncia em francês, língua em que a pronúncia com j veio a prevalecer sobre a que tinha o g oclusivo (como em guerre; cf. comentário sobre geyser no Centre de Ressources Textuelles et Lexicales).
3. Sobre o significado de geyser/gêiser, o que foi referido transpõe exatamente a informação da nota etimológica do Dicionário Houaiss. Pela observação da consulente, tal informação será pouco exata; contudo, parece-me que a definição «poço que jorra» é mais a descrição de um dado fenómeno natural do que a tradução fiel ou literal de geyser. De qualquer modo, fica registado o reparo.
1 Um geyser/gêiser é «jacto intermitente de água quente que irrompe do solo» (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa).
2 José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, aventa a possibilidade de a palavra gêiser (que este autor grafa como géiser) ter entrado na língua portuguesa no século XIX, por via do inglês. Antônio Geraldo da Cunha, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1986) afirma sem hesitações que o termo vem «do ing[lês] geyser, deriv[ado] do islandês Geysir, nome próprio de certa fonte de água quente na Islândia.