A respeito de sarrabulho (ou serrabulho), o Dicionário Houaiss e o Dicionário Etimológico Resumido (Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro/Ministério da Educação e Cultura, 1966), de Antenor Nascentes, consideram que se trata de palavra de «origem obscura». José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, é da mesma opinião, mas aventa a hipótese de se tratar de formação expressiva: «A ser assim, creio que o sentido mais antigo seria o de "barulho, desordem" [...] Daqui sairia o nome do tão célebre prato português, dada a "mistura, aparente desordem" em cuja composição entram sangue, miúdos de porco, torresmos, toucinho, etc.»
Não é esta a perspetiva de Silveira Bueno, no seu Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa (São Paulo, Edição Saraiva, 1967; mantive a ortografia original): «a forma primitiva foi sarabulho e até sarbulho com o significado de cobreiro, vermelhidão que aparece na péle e atribuido à passagem de algum animal peçonhento, geralmente, cobra. Daqui serpulho e em esp[anhol] serpullido aplicado não só ao que acima chamamos cobreiro, mas a qualquer impinge, e até as pintas vermelhas deixadas na péle pelas pulgas. Passou o nome a significar o prato [português] [...] pela presença do sangue de porco que fica depois de ido ao forno, co pintas mais escuras umas, mais vermelhas outras. A base de sarpulho, serpulho, sarbulho, sarabulho, sarrabulho é o lat[im] tard[io] serpusculus, herpes, cobreiro, de serpĕre, justamente o que acima dissemos a respeito da passagem das cobras nas roupas e depois na péle, produzindo cobreiro.»
A proposta de Bueno pode encontrar vários problemas, entre eles, o de se atribuir origem galego-portuguesa ao espanhol sarpullido (e não "serpullido"; cf. Dicionário da Real Academia Espanhola). Por outro lado, não encontro a forma latina serpusculum registada nos dicionários latinos que consultei — o de Gaffiot (regista-se serpullum/serpyllum/sirpullum, «tomilho») e o de Du Cange. Mas não deixa de ser sugestiva a hipótese de Bueno, que não me parece incompatível com o valor expressivo do próprio étimo e das formas que a palavra eventualmente assumiu.
Sobre chanfana, transcrevo o que se lê na nota etimológica desta entrada no Dicionário Houaiss (ver também Nascentes, op. cit.):
«[do] esp. chanfaina (1605) "guisado de bofes preparado com cebola e outros condimentos", parece ser alt[eração] de sanfoina, com troca de suf[ixo]; o étimo de chanfana foi proposto por João Ribeiro: lat[im] symphonĭa, ae, "concerto, acompanhamento musical", empr[és]t[imo] ao gr[ego] sumphōnía, as, "concerto de várias vozes, de diversos instrumentos"; Corominas endossa a sugestão do filólogo brasileiro para o esp[anhol] chanfaina e mostra que a evolução não apresenta dificuldades nem do ponto de vista fonético nem do ponto de vista semântico, lembrando que não é raro se empregarem termos musicais para designar guisados, prato preparado com vários ingredientes.»