As dúvidas que se lhe colocam sobre a utilização da expressão «muito idêntico» explicam-se pelo significado original do adjectivo idêntico, que, de facto, não parece permitir tal construção.
Se remetermos para a etimologia, idêntico deriva do latim medieval identicum, que, por sua vez, provém de idem, vocábulo que ainda hoje utilizamos precisamente com o mesmo sentido – «o mesmo» –, o que nos aponta, desde logo, para um significado diferente de «semelhante» ou «parecido», pois parece, antes, designar «o que é igual a outro» (Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa, de António de Morais e Silva), ou seja, «o mesmo» (idem).
Talvez seja essa a razão pela qual sintamos resistência em dizer/escrever «muito idêntico», pois cria a sensação de que se está a repetir a ideia da própria palavra, tornando a construção absurda. Que lógica existe na expressão «muito o mesmo» ou «muito igual»?
Penso que tal dúvida surge porque, actualmente, se usa o adjectivo idêntico, não para designar o que a sua etimologia realmente representa, isto é, «que em nada difere de outro ou outros» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2005), mas também para significar algo que seja «muito parecido, análogo ou semelhante» (idem).