Segundo a tradição gramatical brasileira*, um aposto não retoma um adjetivo, mas sim (1) um substantivo, (2) um pronome, (3) um numeral, (4) um elemento substantivado, (5) uma oração inteira, como se vê, respectivamente:
(1) A limpidez, marca do bom etanol, é um atributo fundamental.
(2) Ela, a limpidez, é um atributo fundamental do bom etanol.
(3) Ambas (a limpidez e a baixa acidez) são atributos fundamentais do bom etanol.
(4) O purificar do etanol – processo importante para a sua limpidez – é fundamental.
(5) O etanol do Brasil é ótimo, fato incontestável.
Quanto à pergunta mais específica do consulente, não se encontrou na gramaticografia tradicional brasileira sequer um exemplo de aposto retomando um adjetivo, pelo que torna a análise sintática da oração bastante original. No entanto, no contexto frasal trazido, não nos parece haver outra análise sintática possível para «atributo fundamental deste combustível» senão como aposto do adjetivo límpido.
O que nos parece bastante coerente ser aplicado à análise sintática do aposto neste caso especial, levando-se em conta a sua natureza de retoma de segmentos com valor substantivo, é a relação metonímica entre o adjetivo límpido e o substantivo abstrato derivado dele (limpidez), como se a frase assim estivesse escrita:
– O etanol tem limpidez, atributo fundamental deste combustível. Sempre às ordens!
* Por ser brasileiro o consulente, a explicação nesta resposta se baseia na tradição gramatical brasileira.
N. E.: Outra análise possível, proposta pela consultora Carla Marques: «Sabendo que o aposto incide sobre um constituinte nominal ou frásico, tal como se refere no início da resposta, a frase em questão pode constituir um caso especial, em que o aposto incide sobre a predicação «ser límpido», que podemos considerar uma frase nominal composta por verbo copulativo (ser) + adjetivo (límpido). Do ponto de vista semântico, esta interpretação parece confirmar-se porque o atributo fundamental de que se fala é o de «ser límpido». Do ponto de vista aspetual, esta interpretação também se confirma: é ao estado de «ser límpido» que se acrescenta uma explicação vertida no aposto (e não ao adjetivo límpido, exclusivamente). Por fim, se procurarmos uma equivalência sintática, veremos que o aposto poderá ser substituído por uma oração nominal («O etanol é límpido, o que é um atributo fundamental deste combustível.»), mas não poderá ser substituído por uma oração adjetival («*O etanol é límpido, que é atributo fundamental deste combustível.»). Isto acontece porque as orações relativas introduzidas pela locução «o que» têm a capacidade de retomar uma oração, que se assume como antecedente. Tal não acontece com as orações relativas adjetivas.»