DÚVIDAS

Advérbio e conjunção: «eis que»

Já vi em inúmeros livros recomendações sobre a reprovação de usar «eis que» como sinônimo de porque para estabelecer ideia de causa.

Mas a pergunta é: seria correto classificar esta referida expressão como conjunção temporal?

«Estava no alpendre de minha casa repousando, eis que vislumbro bem de longe algo estranho no céu, um óvni.»

Resposta

No caso em apreço, «eis que» é equivalente a uma locução conjuncional com valor temporal.

Podemos considerar várias possibilidades de construção com eis.

Por um lado, na qualidade de advérbio de designação, eis é usado para apresentar algo ou alguém que é referido de seguida na frase:

(1) «Eis o meu irmão, acabado de chegar.»

O advérbio eis pode ser acompanhado de uma oração introduzida pela conjunção que, como em (2):

(2) «Eis que chega o meu irmão.»

Neste caso, o advérbio eis não forma uma locução com que. Eis tem a função de apresentar a oração que se segue.

Noutros casos, encontramos registos de usos nos quais «eis que» é usado como locução equivalente a «de repente»1, como acontece na frase apresentada pelo consulente, aqui transcrita em (3):

(3) «Estava no alpendre de minha casa repousando, eis que vislumbro bem de longe algo estranho no céu, um óvni.»

Este uso é equivalente à locução «eis senão quando», que tem um valor equivalente:

(4) «Estava no alpendre de minha casa repousando, eis senão quando vislumbro bem de longe algo estranho no céu, um óvni.»

Disponha sempre!

 

1. Esta classificação e o respetivo valor surgem registados no Dicionário Priberam em linha e no Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa