DÚVIDAS

Ainda o plural de nomes (pronomes) e apelidos (sobrenomes)

Pelo o que se lê no nosso Ciberdúvidas acerca do plural de prenomes e sobrenomes portugueses, em diversas respostas e outrossim em artigo do Pelourinho, depreende-se que:

1.º) Prenomes portugueses vão ao plural quando necessário. Assim escrevemos corretamente: Joões, Manuéis, Marias, Sebastianas, Tomés, etc.

2.º) Os prenomes terminados em s ficam invariáveis. Deste modo: os Domingos, os Lucas, os Marcos.

3.º) Sobrenomes portugueses também vão ao plural. De maneira que, se pluralizados, ficam: Arrudas, Sampaios, Mesquitas, Castros, Pessoas, etc.

4.º) Em havendo dois sobrenomes, somente o primeiro toma a forma plural: Castros Mesquita, Oliveiras Pereira, Proenças Meireles, etc. Se entre os dois houver "de", "do", "da", a regra é a mesma: Lousadas de Albuquerque, Correias do Amaral, Rangéis da Fonseca.

Contudo, parece-me que há sobre o tema pontos ainda obscuros não esclarecidos pelo nosso Ciberdúvidas. Em baixo procurarei elencá-los, pedindo para eles a luz refulgente desse preciosíssimo ciberconsultório.

1.º) O prenome Luís é exceção à regra, pluralizando-se Luíses?

2.º) Nomes terminados em "x" e "z", tais como Félix, Beatriz, ficariam invariáveis?

3.º) A regra do plural de dois apelidos juntos valeria também para nomes, escrevendo-se Paulos João, Marias Eduarda, Anas Maria? Ou seriam José Manuéis, Paulo Joões, Tomé Bartolomeus, como se depreende de um artigo do Pelourinho?

4.º) Sobrenomes como Queirós, Vaz, Moniz ficam invariáveis: os Queirós, os Vaz, os Moniz? E em conjunto: os Queirós Oliveira, os Vaz Brandão, os Moniz da Gama?

5.º) Se entre os dois apelidos vem "e", como em Andrada e Silva, Oliveira e Sousa, Rosa e Sá, ambos devem pluralizar-se ficando portanto: Andradas e Silvas, Oliveiras e Sousas, Rosas e Sás?

6.º) Caso a resposta para a questão anterior seja afirmativa, conjuntos como Moniz e Portugal, Queirós e Ávila, Guimarães e Lopes ficariam: Moniz e Portugais, Queirós e Ávilas, Guimarães e Lopes?

Caso V. Sas. conheçam outros pontos a serem esclarecidos, além desses seis acima mencionados, por obséquio, os esclareçam.

Muito obrigado.

Resposta

Respondendo aos pontos obscuros que o consulente refere:

1. O plural Luíses não é uma excepção, porque segue o modelo do substantivo comum país, cujo plural é países. O conjunto formado por substantivos terminados em -ís, de acentuação aguda (oxítona), permite formar o plural.

2. O nomes terminados em -iz, como Beatriz, também podem ser flexionados no plural de acordo com o modelo dos substantivos comuns codorniz (> codornizes) e almofariz (> almofarizes) e do adjectivo feliz (> felizes). Já o caso de Félix não é tão claro: em princípio, deveria pluralizar como "Félices", tendo por modelo palavras como fénix e cálix, que formam respectivamente os plurais fénices e cálices; no entanto, é compreensível que os falantes evitem o plural por este ser raro e irregular.

3. O que diz poder depreender-se de um Pelourinho (aqui publicado em 7/01/2001) é com toda a probabilidade um lapso, que já está assinalado. Um nome ou dois nomes, tanto faz, pluralizam sempre: «a Maria Isabel» > «as Marias Isabéis».

4. Considerando o modelo de Luís, aos apelidos|sobrenomes Moniz, Queirós e Vaz deveriam corresponder respectivamente os plurais "Monizes", "Queiroses" e "Vazes". Acontece que Moniz e Vaz são apelidos|sobrenomes que têm origem em patronímicos e, por esta razão, não têm flexão de plural, tal como Fernandes ou Nunes («o Fernandes/Nunes»/«os Fernandes/Nunes»). Quanto a Queirós, trata-se de um apelido|sobrenome já com origem num plural (queirós, de queiró ou quiró, espécie de urze; cf. José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), pelo que se dispensa a forma "Queiroses".

A respeito do plural de pares de apelidos|sobrenomes, estes também se pluralizam à semelhança dos primeiros nomes (prenomes). Não vejo, por isso, que seja legítima a regra do consulente segundo a qual «em havendo dois sobrenomes, somente o primeiro toma a forma plural». Este procedimento parece-me inconsistente, porque tal seria, por um lado, aplicar a regra portuguesa de pluralização ao primeiro nome e, por outro, seguir a regra francesa da não-flexão dos apelidos|sobrenomes em relação ao segundo.

5. Se os apelidos|sobrenomes são pares coordenados, concordo com a regra enunciada pelo consulente.

6. Também concordo com os plurais das sequências apresentadas.

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