Já acrescentámos à pergunta em apreço a indicação de que a pronúncia descrita é a do português europeu. Mas, pela minha parte, gostaria de comentar a observação final.
É queixa habitual que no padrão europeu do português (PE) se comem as vogais, sobretudo o e átono, com o resultado de as palavras ficarem muitas vezes reduzidas a uma vogal tónica (quase só) rodeada de consoantes. Por exemplo, desprestigiar soa, na pronúncia rápida, como "dchprchtigiar", o que leva muitas vezes quem não conheça esta variedade de português a julgar que se trata de uma língua eslava.
Porquê essa impressão? Para os eslavos tal não parece ser verdade, até porque, ao que sei, se queixam do mesmo problema com o PE. Porém, é certo que a frequente realização palatal (ou pré-palatal) do s em final de sílaba em PE pode lembrar as palatalizações tão características das línguas eslavas.
Há um outro aspecto que não diz respeito às línguas eslavas em geral, mas apenas a uma delas: tal como o russo, o PE tem regras que impõem às vogais em posição átona a alteração do seu timbre. Assim como em russo, ókna, «janelas», vê o o inicial tornar-se um [a] no singular oknó, por ser átono, também em português o o da segunda sílaba de namoro passa a [u] em posição átona, como em namorar, pronunciado "nâmurár" (em Alfabeto Fonético Internacional, [nɐmuɾaɾ]).
É claro que a natureza das regras do vocalismo do PE é diferente, porque a tendência das vogais átonas é tornarem-se muito fechadas e breves, de tal maneira que o e, por exemplo, se torna a vogal alta central não arredondada [ɨ]: cedo = [cedu], mas cedinho = [cɨdinho]. Esta vogal pode, para alguns, soar (quando os portugueses não a "comem"...) como o e mudo do francês.
Apesar disso, em comparação com o russo, o princípio parece ser o mesmo: reduzir contrastes vocálicos nas sílabas átonas. Pensamos que a comparação do PE com as línguas eslavas fornece dados interessantes, porque mostra soluções semelhantes. Tal possibilidade deve-se com certeza a propriedades que são comuns às línguas do mundo e aos caminhos que estas percorrem na sua evolução.