DÚVIDAS

Classificação de orações de D. Sebastião (Mensagem, de Pessoa)

Solicito a vossa ajuda para a compreensão do tipo de orações subordinadas no poema D. Sebastião, de Mensagem, de Fernando Pessoa. Assim, será que está correto o tipo de subordinação que eu coloco entre parênteses?

Louco, sim, louco, porque quis grandeza (explicativa/causal)

Qual a Sorte a não dá. (relativa)

Não coube em mim minha certeza;

Por isso onde o areal está (causal)

Ficou meu ser que houve, não o que há. (duas relativas)


Minha loucura, outros que me a tomem (relativa)

Com o que nela ia. (relativa)

Sem a loucura que é o homem (final/integrante/relativa)

Mais que a besta sadia (comparativa)

Cadáver adiado que procria? (relativa)

Resposta

As orações subordinadas do poema D. Sebastião, Rei de Portugal, da obra Mensagem, de Fernando Pessoa, classificam-se do seguinte modo:

1.ª «porque quis grandeza» – oração subordinada causal;

2.ª «qual a sorte a não dá» – oração subordinada relativa;

3.ª «onde o areal está» – oração subordinada relativa;

4.ª «que houve» – oração subordinada relativa;

5.ª «que há» – oração subordinada relativa;

6.ª «que nela ia» – oração subordinada relativa;

7.ª «que procria» – oração subordinada relativa.

Esclarecem-se três aspetos que, eventualmente, podem suscitar dúvidas:

a) «por isso» (verso 4) é uma expressão causal que não constitui oração;

b) «que» (verso 5) não é uma conjunção integrante nem um pronome relativo, mas uma partícula expletiva, que contribui para tornar a frase enfática;

c) «mais que» (verso 9) faz parte de uma comparação que não se constitui como oração, dada a ausência de predicado.

Não posso deixar de comentar que considero inadequado fazer uma divisão e classificação sistemática e completa de orações neste poema: primeiro, por o poema conter frases elíticas e frases enfáticas, o que permite diferentes visões sintáticas; segundo, pelo facto de se tratar de um poema épico-lírico, constituindo-se tal análise (e correspondente aridez) como prejudicial à belíssima impressão causada pela riqueza do seu conteúdo semântico, esse, sim, a analisar.

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