DÚVIDAS

Controlar com objeto direto preposicionado

Mesmo sendo transitivo direto, deparamo-nos com ocorrências algo controversas onde a norma culta -- termo talvez ainda mais controverso -- parece estar de troça relativamente à transitividade do verbo controlar.

Nos exemplos abaixo, o que oficialmente poderia justificar (se justificáveis) as construções? [E, sim, há mais nos exemplos a ser abordado. Estejam livres para, por favor, instruir este consulente.]

A mim ninguém controla.

A mim, ninguém controla.

A mim ninguém me controla.

A mim, ninguém me controla.

Forte abraço à equipe Ciberdúvidas.

Resposta

É unânime nas gramáticas a existência dum termo sintático* chamado «objeto direto preposicionado», que nada mais é do que um objeto direto introduzido por uma preposição (empregada ora pelo próprio uso culto que se faz da língua, ora por razões estilísticas). Importante: a preposição que enceta o «objeto direto preposicionado» NÃO é exigida pelo verbo, que continua sendo transitivo direto.

É esse o caso do exemplo trazido pelo consulente: o verbo controlar é transitivo direto e o termo «a mim» é o seu objeto direto (preposicionado).

Quanto às demais frases com o objeto direto preposicionado deslocado, a vírgula é facultativa. Logo, está igualmente correto escrever «A mim ninguém controla» ou «A mim, ninguém controla» (o mesmo vale para os outros dois exemplos: «A mim ninguém me controla» ou «A mim, ninguém me controla»).

Aproveita-se o ensejo para esclarecer que essas duas últimas frases apresentam um objeto direto simultaneamente preposicionado e pleonástico: ou seja, o me funciona como objeto direto e o «a mim» funciona como objeto direto preposicionado e pleonástico.

Quem explica isso é o linguista Castelar de Carvalho em seu belo livro intitulado Dicionário de Machado de Assis: língua, estilo, temas, neste trecho:

«Objeto direto preposicionado e pleonástico

Neste caso, o objeto direto preposicionado retoma o pronome oblíquo antecedente, este na função de objeto direto, como se vê nos exemplos a seguir destacados em itálico. Trata-se de um recurso de estilística sintática que visa a enfatizar a figura do objeto direto.

"Algumas pessoas começaram a mofar do Rubião e da singular incumbência de guardar um cão em vez de ser o cão que o guardasse a ele." (QB, IX).

"Aqui os tenho aos dois bem casados de outrora." (DC, VII).

"Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero era grande, e eu jurava matá-los a ambos." (DC, CXXXII).

"Parece que os libertos vão ficar tristes, sabendo que ela [Fidélia] transfere a fazenda, pediram-lhe que não, que a não vendesse, ou que os trouxesse a todos consigo." (MA, 10/8/1888).»

Sempre às ordens!

* Visto que o consulente é do Brasil, usou-se a nomenclatura gramatical tradicional brasileira.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa