DÚVIDAS

Diferenças entre o oral e o escrito

Faço o 1.º período de pedagogia, a professora pediu para fazer um trabalho sobre linguagem oral e escrita, e explicar suas diferenças. Só que não estou achando nada sobre este assunto. Será que vocês podem me ajudar?

Resposta

Nos verbetes abaixo indicados, encontra referências bibliográficas que poderão ser úteis. Poderá, ainda, consultar a obra de Emília Amor, Didáctica do Português – fundamentos e metodologia, da Texto Editora.

Nesta obra, a autora equaciona os principais traços diferenciadores entre o oral e o escrito, que se situam a nível da dependência contextual, da planificação e controle, das manobras de reforço e correcção, das prescrições formais e da distância discursiva.

1. A dependência do contexto é mais acentuada no oral do que no escrito. A ela correspondem, no oral, a menor precisão e organização das referências e dos mecanismos de co-referência (recursos paralinguísticos, anáforas pronominais, deícticos situacionais), o uso de um léxico de características anafóricas apenas compreendido em situação (“coisa”, “objecto”, “isso”, “fulano”, etc.), as elipses, as holofrases, os implícitos discursivos, etc.

2. A menor planificação do oral é visível nos fragmentos e rupturas (de palavras, de sintagmas, de enunciados), nas antecipações e retrocessos, nas inversões e mudanças bruscas de tópicos, nas repetições, nas pausas, nos bordões linguísticos, etc.

3. As manobras de reforço e correcção tanto existem no escrito como no oral, mas o texto escrito já nos é apresentado na sua forma final, não sendo visíveis as revisões e reformulações que o discurso sofreu, o que não acontece no oral, em que a correcção é visível por parte do interlocutor. Por outro lado, as repetições, as intensificações de sentido e as precisões metalinguísticas usadas no oral também ocorrem no escrito, quando se exige que seja explícito e redundante, como condição de ser informativo.

4. As prescrições formais, a normalização, é uma característica do escrito, que confere à linguagem uma realidade material permanente (em contraste com a efemeridade do oral), havendo da parte do emissor uma maior atenção e exigência dirigidas às suas características formais, gramaticais. Embora este aspecto seja de menor relevância no oral, é nítida em muitos contextos a tendência para a observação de convenções prescritivas, para a normalização.

5. A menor distância discursiva do oral traduz-se na modalização dos enunciados e na emergência de marcas da 1.ª e 2.ª pessoas (“parece-me”, “eu acho que”, “estás ver?”, “quero lá saber...”, “vamos ver”, “claro!”, etc.). No oral, o sujeito da enunciação normalmente assume um certo protagonismo comunicativo, não se escondendo por detrás das palavras.

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