Funções da linguagem, outra vez
Gostaria de saber um pouco mais sobre as funções da língua portuguesa.
Desde já obrigado.
Gostaria de saber um pouco mais sobre as funções da língua portuguesa.
Desde já obrigado.
As funções da língua portuguesa são idênticas às de qualquer língua.
Partindo do princípio de que a sua dúvida não incide na especificidade do português, direi que função é termo utilizado para referir o objectivo com que é usado um enunciado ou uma unidade da língua. No estudo dos enunciados, dos diferentes fins que atribuímos à significação de um enunciado no momento da sua produção, podemos analisar as chamadas "funções da linguagem".
O estudo das funções da linguagem tem sido feito por vários linguistas. Referirei os quatro mais significativos: Karl Buhler, Roman Jakobson (anos 50), John Lyons e M A. K. Halliday.
Karl Buhler apresenta três funções da linguagem:
1 - a representativa: a língua é um sistema de representação de tudo aquilo que constitui para o homem o pensável, tem a função de elaboração do pensamento; através da língua o homem veicula o mundo exterior e interior;
2 – a expressiva: ao utilizar a língua, o sujeito falante manifesta uma atitude, uma posição, um ponto de vista (de natureza intelectual, psicológica, moral ou afectiva) em relação àquilo de que fala;
3 - a apelativa: o emissor visa uma reacção por parte do receptor da mensagem.
Roman Jakobson define seis funções da linguagem, fazendo corresponder cada uma delas aos seis factores com que caracteriza a comunicação verbal, o destinador, o destinatário, o contexto, a mensagem, o código e o contacto. Conquanto as mensagens conjuguem normalmente mais do que uma função, podemos distinguir a que é predominante:
1 - a função emotiva é a determinada pelo emissor, pelo destinador, que visa exprimir a sua atitude perante aquilo de que está a falar, uma emoção em relação ao assunto que está a tratar (ex.: "Estou encantada com esta visita.");
2 - a função conativa existe em mensagens centradas no destinatário, no receptor, tentando influenciá-lo ou levá-lo a agir (ex.: "Fale um pouco mais alto, por favor.");
3 - a função referencial existe na generalidade das mensagens e é determinada pelo contexto: o emissor tem a intenção de informar, de referir, de descrever uma situação um estado de coisas, um acontecimento,. etc. (ex.: "Ontem, em Coimbra, a temperatura atingiu os 32 graus.");
4 - a função poética é determinada pela mensagem: a mensagem é valorizada por um qualquer recurso expressivo (ex.: "Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!");
5 - a função metalinguística existe quando há a preocupação em esclarecer aspectos da própria língua, do código, quando o emissor e o receptor sentem necessidade de clarificar se estão a referir-se ao mesmo, se não há ambiguidades, etc. (ex.: "Quando disse chá, queria referir-me àquela bebida aromática feita das folhas do chá e não a esta água de limão.")
6 - a função fática está presente quando se pretende estabelecer ou manter o contacto com o interlocutor, ver se ele está a prestar atenção ou verificar se o canal funciona (ex.: "Estás a ouvir-me?... Sim, claro.").
John Lyons define três funções:
1 - a descritiva, idêntica à referencial, apresentada por Jakobson;
2 - a expressiva, idêntica à emotiva, definida por Jakobson;
3 - a social, que é a de comunicação e integração na comunidade a que se pertence.
Finalmente, M. A. K. Halliday considera três funções:
1 - a ideacional: a linguagem serve para organizar a experiência e a interpretação do real, com a referência a tudo o que pretendemos (intervenientes, situações, espaço, tempo, etc.);
2 - a interpessoal: a linguagem serve para estabelecer relações entre as pessoas.
Quando falamos, desempenhamos um determinado papel em relação ao outro ou aos outros e utilizamos, consoante essa relação, determinadas formas de tratamento, pessoa, modo, etc.
3 - a textual: a capacidade do falante em criar e reconhecer unidades textuais.
Em contexto escolar, é vulgarmente seguida a perspectiva de Roman Jakobson.