DÚVIDAS

O pronome indefinido qualquer com o sentido de nenhum

O gramático Napoleão Mendes de Almeida, na sua sempre indispensável Gramática Metódica da Língua Portuguesa, afirma que o pronome indefinido qualquer não pode ser empregado, com o sentido de nenhum, em orações negativas, uma vez que tal maneira constitui um dos anglicismos que mais infunicam a nossa linguagem. Ora, em respostas vossas tenho observado esse uso nebuloso do supramencionado pronome. Que me podeis dizer?

Resposta

Do ponto de vista da norma, nota-se recentemente uma maior abertura ao emprego de qualquer em contexto negativo. Maria Helena de Moura Neves, no Guia de Uso do Português (São Paulo, Editora Unesp, 2003), diz o seguinte sobre este tópico:

«Em manuais normativos condena-se o uso de qualquer com valor negativo, recomendando-se, nesse caso, o uso de nenhum. De resto, a doida não deu NENHUM sinal de guerra. (COT) [= Contos de Aprendiz, de Carlos Drummond de Andrade]»

Entretanto, a forma é usual, nesse contexto, nos diferentes registros. O Ministério da Fazenda também não deu qualquer retorno. (FSP) [= Folha de São Paulo]. A sorte da villa é que essa estrada não tem qualquer importância estratégica. (ACM) [= Aqueles Cães Malditos, de Arquelau, de I. Pessoti]»

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